As eleições presidenciais de 2018 podem ser as mais fragmentadas desde 1989. Há diversos candidatos, que variam da extrema esquerda à extrema direita. A diversidade ideológica, porém, às vezes não resiste às conveniências eleitorais. Faz sentido Ciro Gomes, que ensaiava se apresentar como representante da esquerda, coligar com o DEM, partido de direita e que votou a favor da reforma trabalhista – que Ciro se comprometeu a revogar se for eleito? Segundo o cientista político e professor da Fundação Getúlio Vargas do Rio (FGV-RJ) Carlos Pereira, essas coligações são comuns, pois a “ideologia não é critério de identificação partidária”. Leia os principais trechos da entrevista de Carlos Pereira a MONEY REPORT.
Ciro Gomes (PDT) tenta uma aliança com o DEM, um partido que já foi uma das grandes siglas da direita do país, o antigo PFL. O que faz sentido na esquerda e direita hoje?
A divisão entre esquerda e direita faz sentido, mas não na esfera partidária. No sistema presidencialista brasileiro, multipartidário e hiperfragmentado, a ideologia não é uma fonte de agregação de interesses partidários. Os partidos se caracterizam por serem fracos do ponto de vista ideológico – a ideologia não é capaz de agregar ou diferenciar os partidos. A ideologia não é critério de identificação partidária. Não temos no Brasil partidos claramente de esquerda ou de direita.
O deputado Miro Teixeira (Rede) disse ao jornal Valor que a divisão entre esquerda e direita é um “símbolo anacrônico”. Ele tem razão?
De fato, essa discussão é anacrônica. No sistema presidencialista, os partidos não surgem ou se desenvolvem sob a égide da ideologia.
Sob qual égide eles se desenvolvem?
Sob o cálculo eleitoral e de benefícios que terão com os respectivos eleitores.