Duas pesquisas publicadas nesta semana (Datafolha e Ipec) convergem para o mesmo cenário: nos últimos 45 dias, Luiz Inácio Lula da Silva teve um ligeiro crescimento – coisa de 4 pontos percentuais – enquanto Jair Bolsonaro ficou estagnado nos mesmos índices de intenção de voto. Ontem, porém, um estudo da consultoria Arko Advice, realizada pelo Instituto Atlas, mostra números bem diferentes: Lula lidera com 48,3 % e Bolsonaro aparece com 41 %. Uma semana atrás, no entanto, essa mesma enquete cravava Lula com 48,4 % e Bolsonaro com 38,6 %. Em 25 de agosto, o petista chegava a 46,7 % e o presidente, a 38,3 %.
Datafolha e Ipec utilizam metodologias semelhantes entre si e diferentes da seguida por Atlas e Arko, a consultoria política dirigida pelo cientista político Murillo de Aragão, um dos mais respeitados do país. Quem está com a razão e apresenta números mais próximos da realidade? Essa resposta virá somente com os resultados do dia 2. Neste momento, poderemos apontar qual a metodologia de pesquisas conseguiu capturar melhor o cenário político nacional.
Há dois panoramas possíveis para explicar resultados tão diferentes.
Caso Bolsonaro esteja mesmo estagnado, como sugerem Datafolha e Ipec, a explicação pode ser a rejeição à figura pública de Bolsonaro. Percebe-se que a inflação diminuiu e que atividade econômica voltou a crescer. Isso, em condições normais de temperatura e pressão, seria o suficiente para ampliar a gama de votos do presidente. Mas, aparentemente, a reprovação ao mandatário seria maior que os benefícios econômicos gerados por sua administração.
Mas, e se houve um crescimento de Bolsonaro, como sugere a pesquisa Arko?
Estes números, em tese, capturariam essa reação da economia, com um aumento significativo nas mensalidades dos programas sociais, a queda da inflação e, ao mesmo tempo, a diminuição dos preços dos combustíveis nas bombas dos postos.
Portanto, fica a incerteza: o brasileiro está, em sua maioria, decidindo seu voto de forma emocional ou racional? O que será mais importante para o eleitorado: a rejeição às lacrações bolsonaristas e seu estilo politicamente incorreto ou o apelo gerado pela economia em estado de recuperação?
Voltemos um pouco no tempo: durante a pandemia, Bolsonaro cometeu erros primários de comunicação de massa, criticando a vacinação e fazendo pouco da tragédia sanitária que se abateu sobre o mundo. Mesmo assim, o presidente manteve a popularidade em alta e esteve no topo das enquetes de intenção de voto. Esse quadro fica estável até a inflação dar o ar de sua graça em 2021. Neste momento, o nome de Lula começa a crescer nas pesquisas, enquanto a aprovação de Bolsonaro foi minguando.
Diante desse quadro, os estrategistas do Planalto acreditaram que se apostassem em medidas assistencialistas combinadas com um pacotão para injetar ânimo da economia, a aprovação do presidente iria subir.
De um lado, talvez o efeito das medidas tenha vindo em um ritmo menor que o necessário para um candidato à reeleição – ou, então, o grau de rejeição a Bolsonaro tenha atingido um nível alto demais para ser revertido. Dependendo da pesquisa, o presidente chega a atingir 52 % de reprovação. Além disso, ele invariavelmente está em primeiro lugar nas avaliações negativas entre todos os candidatos.
De qualquer forma, todas as dúvidas serão dissipadas em 2 de outubro. Com resultados concretos na mão, poderemos entender melhor o comportamento e as escolhas do eleitorado brasileiro e traçar uma previsão mais acertada para o segundo turno – se é que a eleição terá mesmo mais uma etapa em 30 de outubro.