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Quando somente nós estamos competindo com os outros

Ontem, escrevi sobre empreendedorismo e mencionei um documentário eu vi nesta semana sobre a banda Beach Boys. Mencionei o pessimismo e a melancolia que rondavam o líder do grupo, Brian Wilson, e como isso deve ter influenciado em seu trabalho criativo. Somente hoje me lembrei que havia outra característica que impulsionava seu trabalho: a rivalidade com quatro ingleses de Liverpool, que tiraram os Beach Boys do topo do pódio das paradas americanas. Nos anos de 1962 e 1963, só dava Brian Wilson e seus colegas na Billboard. Mas, depois de fevereiro de 1964, quando os Beatles chegaram aos Estados Unidos, os garotos da Califórnia foram relegados a um papel secundário na cena musical. Pior que isso: a qualidade das canções de John Lennon e Paul McCartney – um pop de altíssimo nível – descortinou a ingenuidade do som criado por Brian.

Enquanto boa parte da discografia dos Beatles poderia ser creditada à rivalidade sadia que havia na dupla Lennon-McCartney, Brian (na imagem, ele é o último à direita) era praticamente o compositor solo de sua banda. Mike Love, o vocalista, escrevia a maioria das letras — mas seu trabalho estava milhas aquém dos rivais ingleses. Os Beach Boys eram uma espécie de ‘família dó-ré-mi”: Brian tocava com seus irmãos Carl e Dennis (o único que surfava de verdade), o primo Mike e o vizinho Al Jardine.

Sem um parceiro forte nos Beach Boys, Brian tomou para a si a responsabilidade de concorrer com os Beatles. Mas nem Paul McCartney nem John Lennon o viam como um oponente. Na segunda metade da década de 1960, os Beatles já demonstravam maturidade em álbuns como “Revolver” e “Rubber Soul”. Isso levou a Brian contratar os melhores músicos de estúdio dos Estados Unidos para tocar em seus discos – além de elevar a régua de suas composições. Em 1966, lançou “Pet Sounds”, que trazia canções experimentais e populares. Foi um sucesso imediato, puxado pelas faixas “God Only Knows”, “Wouldn’t Be Nice” e “Good Vibrations”.

Paul McCartney se tornou um entusiasta de “Pet Sounds”. Mas usou o disco para abrir sua cabeça a novas influências – assim como se inspirou em Vivaldi para pedir o arranjo de violinos em “Eleanor Rigby”. Não pensou em Brian Wilson como um rival a ser batido, mas sim como um músico que merecia seu respeito e admiração. O baixista dos Beatles também estava sintonizado com outras bandas que surgiam em Los Angeles e São Francisco, incorporando alguns toques de psicodelia às suas composições com John Lennon.

O resultado de tudo isso foi “Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band”, considerado por muitos o melhor álbum dos Beatles, com doses certas de experimentação e ousadia. “Pepper’s” caiu feito uma bomba nos ouvidos de Brian Wilson. Os Beatles tinham novamente se superado. E no confronto direto, o último disco do quarteto de Liverpool deixava “Pet Sounds” para trás.

Mais uma vez dominado pelo espírito competitivo, o líder dos Beach Boys resolveu trabalhar no LP que tencionava ser sua obra-prima: “Smile”. Para ampliar sua criatividade, mergulhou fundo nas drogas e deu asas às excentricidades. Antes do lançamento de “Sgt. Pepper”, as gravações avançaram aos solavancos. Mas, depois que Brian ouviu o disco dos Beatles, sofreu um bloqueio criativo fatal. Em junho, o projeto foi abortado.

Brian Wilson foi derrotado por uma rivalidade que só existia em sua cabeça. Lennon e McCartney estavam mais preocupados em superar um ao outro e se sentiam confortáveis (especialmente Paul) neste ambiente competitivo. Já Wilson foi definhando seu poder criativo ao ceder a uma pressão psicológica gigantesca.

O que aconteceu com Brian Wilson – considerado por todos os críticos como um músico genial e um dos maiores compositores do rock – pode ocorrer com qualquer um de nós. Muitas vezes, criamos uma rivalidade que só existe para nós. O outro lado, nestas situações, pode nem perceber que existe uma competição, o que acaba sendo ainda mais frustrante para quem criou uma concorrência em sua própria mente.

Qual é minha música preferida dos Beach Boys? Escolho “The Warmth of the Sun”, que conheci ouvindo a trilha sonora de “Good Morning, Vietnan”. Trata-se de uma típica faixa “dor de cotovelo”. Mas os arranjos vocais representam perfeitamente o estilo da banda: falsetes combinados com harmonias vocais impecáveis. Mas admiro também outras canções: “California Girls”, “God Only Knows” e “Do it Again”. Essas canções também incorporam esse estilo inconfundível, criado por Brian Wilson,

E a sua, qual é?

The Beach Boys, com “The Warmth of the Sun”
The Beach Boys, com “Do it Again”
The Beach Boys — “God Only Knows”
The Beach Boys — “Good Vibrations”

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