MONEY REPORT escolheu como Imagem da Semana o registro da adolescente iraniana Nika Shakarami em cima de uma lixeira queimando seu hijab – a tradicional cobertura de cabeça que as mulheres são obrigadas por lei a usarem nas ruas do Irã. Aos 16 anos, Nika foi identificada por sua mãe, Nasrin, como a jovem que aparece em 20 de setembro, na capital Teerã, gritando slogans como “morte ao ditador” — referência ao líder supremo, aiatolá Ali Khamenei.
No mesmo dia, Nika desapareceu. Pouco antes, avisou uma amiga que estava sendo seguida pela polícia. Seu corpo foi localizado em um necrotério em 30 de setembro. A família foi autorizada a ver seu rosto por apenas alguns segundos para fins de identificação. Nasrin Shakarami diz que sua filha morreu nas mãos da forças de segurança, que a desmentem, alegando que a jovem teria sido lançada do alto de uma construção por desconhecidos, provavelmente operários daquele canteiro. À BBC, a mãe disse: “Como Nika, sou contra o hijab (véu islâmico) obrigatório desde criança. Mas minha geração não foi corajosa o suficiente para protestar. Pessoas da minha idade aceitaram anos de repressão, intimação e humilhação, mas minha filha protestou e ela tinha todo o direito de fazê-lo.”
A polícia chegou a divulgar um vídeo de câmeras de segurança que mostra uma jovem de rosto encoberto em um local da cidade distante dos protestos- como que isentando a polícia de qualquer crime. A família diz que não se trata da jovem nas imagens. A irmã da adolescente, Atash, relatou que a Guarda Revolucionária chegou a informar que Nika estaria sob custódia por cinco dias e depois seria levada à prisão. De acordo com Nasri, Atash e seu filho Mohsen teria sido forçados a dar declarações desaprovando o comportamento da irmã mais nova.
Na segunda-feira (10), a Sociedade Iraniana para a Proteção dos Direitos da Criança (SPRC, na sigla em inglês) informou que 28 jovens e adolescentes foram mortos durante os protestos, que começaram em 16 de setembro, após a morte suspeita de Mahsa Amini, de 22 anos, pela Patrulha de Orientação da República Islâmica, uma força encarregada da fiscalizar o cumprimento dos regulamentos corânicos. A jovem curda estava sob custódia após ser detida por não manter adequadamente sua cabeça encoberta com um hijabe. De acordo com a ONG Anistia Internacional, também morreram Hadis Najafi, 22, alvejada por tiros na cabeça, em 21 de setembro, e Sarina Esmailzadeh, 16, espancada com cassetetes em 23 de setembro. Ela participavam dos protestos em Karaj, cidade a oeste de Teerã
Atash, a Guarda Revolucionária lhe informou que Nika estava sob custódia por cinco dias e depois foi entregue às autoridades da prisão.