Por Fabian Cambero e Angus Berwick
CARACAS (Reuters) – Um ano e meio no temido sistema prisional venezuelano, privado de comida e água, levaram o parlamentar de oposição Gilber Caro a perder 18 quilos, cerca de um quinto de seu peso total, segundo relato do próprio.
Em um determinado momento, Caro diz ter usado agulha e linha para costurar seus lábios para uma greve de fome de cinco dias, em protesto contra as péssimas condições. Autoridades prisionais negam esse relato, que não pôde ser confirmado independentemente pela Reuters.
Agora, o político de 43 anos, que foi libertado da prisão no início de junho juntamente com outros ativistas de oposição, disse que pretende denunciar as táticas empregadas pelo governo do presidente Nicolás Maduro, apesar dos libertados serem proibidos de falarem com a imprensa.
Maduro libertou dezenas de membros da oposição em um gesto de paz após sua reeleição para um novo mandato de seis anos no mês passado, fato que foi condenado pela maioria dos países ocidentais como uma farsa não democrática. Os Estados Unidos impuseram novas sanções à fundamental indústria de petróleo venezuelana.
Em entrevista, Caro, um membro da liderança do partido de oposição Vontade Popular, contou como as autoridades venezuelanas o transferiram entre solitárias em diferentes prisões para impedir que ele se sentisse acomodado.
Caro diz que recebeu pouca comida e água e foi impedido de ver membros de sua família ou advogados. Em sua primeira prisão na cidade de San Juan de Los Morros, no Estado de Guarico, Caro disse que ficou quatro meses sem poder falar com ninguém.
“O que eu experimentei foi isolamento total”, disse Caro, com seu rosto abatido pela perda de peso.
Grupos de direitos humanos e de oposição dizem que o governo Maduro está mantendo centenas de presos políticos sob acusações falsas com a intenção de reprimir as correntes divergentes no país de 32 milhões de pessoas. O sistema judiciário também é acusado de assumir um viés governamental.
O governo nega que os detidos são prisioneiros políticos dizendo que eles foram justamente presos por cometerem crimes violentos durante os protestos.
Enquanto outros detidos reclamaram do tratamento recebido, os comentários de Caro à Reuters foram os relatos mais detalhados sobre as condições de detenção desde que o governo começou a libertar dezenas de prisioneiros no dia 1º de junho.
Caro disse que manteve sua greve de fome em outra prisão no Estado central de Carabobo ao costurar seus lábios depois de nove meses atrás das grades. A experiência o deixou com problemas nos rins, afirmou.
Caro pesava menos de 58 quilos ao sair da prisão, segundo seu advogado Ramon Carmona. Um oficial na prisão de Carabobo disse que não estava autorizado a falar e pediu que os comentários fossem requisitados ao Ministério das Prisões.
Um porta-voz para o Ministério das Prisões da Venezuela, Franklin Suárez, negou que Caro e outros presos tivessem sido mal-tratados na prisão, descrevendo o relato de Caro como “completamente falso”.
Suárez confirmou que Caro fez uma greve de fome mas disse que ele parou depois de quatro dias por ter visto que “era absurda”. Ele negou que Caro tenha costurado os lábios e disse que “não há agulhas” na prisão.
As prisões superlotadas e sem lei da Venezuela são conhecidas pelo fácil acesso a contrabando de drogas, armas, computadores e telefones celulares, dizem grupos de direitos humanos. Centenas morrem todos os anos em rebeliões e brigas de gangues.