Sua quietude omissa incentiva ainda mais a instabilidade e o fragiliza diante da Justiça, aliados e eleitores
Lula venceu. Bolsonaristas bloqueiam estradas. A transição do governo ainda é uma incógnita. Afinal, onde está o presidente do país? Em silêncio há mais de 36 horas, Jair Bolsonaro não deverá trabalhar nesta terça-feira (1º), de acordo com a agenda oficial. Em grupos nas redes sociais, manifestantes acreditam que este sumiço tem como objetivo estimular protestos em todo o país. E podem estar certos.
Segundo fontes do Palácio do Planalto, o próprio presidente deverá apresentar um pronunciamento até quarta-feira (2). O formato ainda não está claro: pode ser vídeo, documento ou uma postagem em suas redes sociais. Mas, enquanto ele se prepara, o país se encontra-se literalmente bloqueado.
Bolsonaro se comporta como sempre comportou. Quando acuado, sempre confia na agitação de seus seguidores, que fazem de tudo para defendê-lo, inclusive trancar estradas. Considerando a dificuldade de um golpe na prática, ele tenta criar uma narrativa para manter a influência sobre seus seguidores a partir de 1º de janeiro de 2023 – o que seria útil para tentar voltar em 2026.
Ao demorar a reconhecer a vitória de Lula, Bolsonaro parece ter esquecido que ainda é o presidente do país e, portanto, responsável por manter a ordem. Com estradas bloqueadas, seu silêncio valida a atitude de radicais e incentiva a instabilidade institucional, derrubando parte dos ganhos de popularidade de seu governo. Afinal, de que adiantou o auxílio aos caminhoneiros e as interferências nos preços da Petrobras, se agora se omite diante do risco de desabastecimento. Isso sem mencionar o descaso para com seus eleitores, pois não agradeceu o enorme apoio que alcançou nas eleições. Mesmo derrotado, o presidente que obteve a segunda maior votação da história da república brasileira, com 58,2 milhões, só perdendo para Lula. Quando foi eleito, em 2018, Bolsonaro levou 57,7 milhões de votos no segundo, o que lhe deu 55% de validação. O que deveria ser motivo de uma retomada vigorosa na ação política, torna-se pretexto para mais confrontos.
Contudo, a atitude é monitorada. Por mais que Bolsonaro tenha o comando da Polícia Federal agora, seu comportamento pode lhe complicar a vida depois que deixar o Planalto. Fora de cena, ele deve responder a processos já emitidos pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sobre uso da máquina pública na campanha e pela rede de fake news ligada a seus aliados. Junto ao TSE, são analisados outras denúncias. O PT, por exemplo, estuda apresentar uma nova ação por abuso de poder político por causa das operações da Polícia Rodoviária Federal (PRF) neste domingo (30).
Mas até lá, por mais que não se consolide, o ameaço golpista pode avançar, o que geraria grandes confusões ao longo de novembro e dezembro. De qualquer forma, a contagem regressiva para sua saída já começou: faltam 61 dias.
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