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Alckmin fez a aposta mais arriscada de sua vida – e ganhou

Geraldo Alckmin não ganhou o apelido de “picolé de chuchu” à toa. Discreto e até tímido, ele passa totalmente despercebido em ambientes cheios de gente e muitas vezes, embora sendo uma figura pública, não era reconhecido pelos eleitores. Querem um exemplo? Quando vice-governador de Mário Covas, foi lançado candidato à prefeitura de São Paulo. Depois de algum tempo, foi até uma produtora e vídeo para começar a gravar seus programas de campanha. Chegou sem estardalhaço e disse à recepcionista que gostaria de falar com o diretor que iria produzir a campanha para a prefeitura. A moça o encarou: “A quem devo anunciar?”. Alckmin, já acostumado com isso, retrucou com elegância. “O candidato”, respondeu.

A fala mansa e a capacidade de fazer o meio de campo entre prefeitos e Covas, que tinha um gênio forte, o levou a um papel de grande importância no Palácio dos Bandeirantes. Quando o governador foi levado por um tumor, Alckmin se tornou titular do cargo em 2001 e foi reconduzido à posição e 2002. Mais tarde, entre 2011 e 2018, cumpriu mais dois mandatos como governador.

Sempre se comportou com moderação e foi dado a poucos rompantes arriscados, com duas exceções. A primeira foi em 2015, quando impôs sua vontade e indicou o empresário João Doria como candidato à prefeitura de São Paulo, cuja eleição seria no ano seguinte. A segunda, e mais ousada, foi quando deixou o PSDB em direção ao PSB. Enquanto todos achavam que ele seria candidato ao governo paulista, com grandes chances de ser eleito, surpreendeu o cenário político e surgiu como candidato à vice-presidência na chapa de Luiz Inácio Lula da Silva.

Muitos criticaram a escolha do ex-governador, uma vez que ele tinha sido um dos ícones do anti-lulismo. Oponente de Lula por duas vezes, não economizava críticas ao petista e ao seu partido. Houve surpresa principalmente no interior de São Paulo, um reduto tradicional de Alckmin, que não gostou de sua aliança com o antigo desafeto.

Hoje, porém, Alckmin deve iniciar a transição entre o governo atual e a próxima administração, na qual ele deve ter um papel preponderante.

Por que o ex-governador não agiu como sempre e fez uma aliança tão surpreendente?

A resposta é simples: raiva.

Em 2018, Alckmin tinha sido escanteado no PSDB paulista, então dominado pelo governador João Doria. Além disso, o ex-governador acreditava ter sido traído por Doria, justamente aquele que teve seu debut político patrocinado por ele. Esta mágoa foi ruminada ao longo dos anos, até que o Geraldo Alckmin foi ao Bandeirantes conversar com seu ex-pupilo. O tema: a candidatura à sucessão de Doria.

O governador, porém, já estava comprometido com o vice Rodrigo Garcia, que seria o candidato oficial dos tucanos. Doria ofereceu ao seu antigo mentor a possibilidade de concorrer às prévias. Mas Alckmin não topou, pois conhecia como poucos a força da máquina do Bandeirantes em um processo desses. A mágoa, então, transformou-se em raiva – e isso impulsionou as decisões do ex-governador.

Muitos eleitores de Jair Bolsonaro e portadores de um forte sentimento antipetista reagiram muito mal à presença de Alckmin na chapa lulista. Mas, vários deles, neste momento conseguiram ver no vice eleito uma possibilidade de que ideias extremistas sejam combatidas no núcleo duro do poder planaltino.

Para que isso ocorra, entretanto, Geraldo Alckmin terá de romper com uma tradição centenária — a de que vice-presidentes são cargos decorativos e nada fazem, a não ser substituir o titular na ocasião de viagens presidenciais. Como ele foi citado inúmeras vezes por Lula em seus discursos da vitória e escolhido para chefiar a equipe de transição, é provável que esse costume esteja prestes a acabar. Neste caso, os empresários devem começar a fazer fila no Palácio do Jaburu, especialmente para manifestar suas preocupações em relação ao futuro da economia.

Alckmin, neste momento, é o único nome no núcleo duro do novo governo com poder para barrar ou amenizar ideias radicais. A pergunta, porém, é: ele vai fazer isso, se houver necessidade? Ou vai ficar no muro, ao estilo de seu antigo partido, o PSDB?

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