Intenção é resgatar o protagonismo brasileiro por meio de um soft power atraente para países da África, Ásia e América Latina
Quando o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) propôs que a 30º edição da Conferência das Partes das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), em 2025, ocorra na Amazônia, sua intenção não era só de ganhar o destaque da mídia. Em conjunto com o pedido há um movimento estratégico liderado pelo petista, que articula uma cooperação entre os países detentores de grandes áreas cobertas por florestas tropicais. O acordo formal foi assinado nesta semana com Indonésia e República Democrática do Congo. A intenção é tornar o Brasil politicamente protagonista de uma agenda capaz de unir e auxiliar nações menos favorecidas economicamente.
Quem pensa só em um coração bondoso está enganado. Lula é um articulador capaz de antecipar jogadas e vislumbrar oportunidades econômicas. O que o futuro presidente brasileiro desenha é que os principais países tropicais ganhem dinheiro com seus ativos florestais, gerando divisas para os donos das terras que necessitam ser preservadas por inteiro ou manejadas com algum planejamento. E esses proprietários não são grandes empresas ou corporações nacionais. Os donos formais das florestas são seus próprios governos, que podem se capitalizar com a venda de créditos ambientais – não importa quem cuide da gestão. É uma potencial mina de ouro para os países pobres, que também poderiam ter ciclos agrícolas menos inseguros, garantindo algum abastecimento e até exportações.
No caso da Indonésia, apesar de o governo informar ter reduzido em 75% o desmatamento em 2020, a preocupação permanece. Foram 115,4 mil hectares de floresta perdidos no período – uma área ainda imensa, do tamanho da cidade de Los Angeles (EUA), mas que representa a considerável diminuição com relação ao cenário de 2019, conforme confirmou a ministra do ambiente e silvicultura, Belinda Arunarwati Margono. Ainda assim, a Indonésia peca no quesito fiscalização e devasta sua floresta, em uma proporção maior que o Brasil.
Mais gente na fila
Já o Congo é um estado praticamente falido. Em vastas regiões do país que concentra a segunda maior floresta do mundo o combate ao desmatamento é inexistente e sequer é cogitado. Em muitos casos, grupos de exploração ilegais de exploração mineral atuam como um estado paralelo e violento. Ali há ouro, bauxita e coltan (usado em celulares).
Quase 90% dos 89,5 milhões de habitantes do Congo dependem de lenha e carvão para cozinhar, segundo estimativas do Banco Mundial. O país perdeu mais de 480 mil hectares de floresta primária em 2021, principalmente com o desmatamento de terras para a agricultura e coleta de madeira, informa a ONG Global Forest Watch.
Uma cooperação pela preservação e exploração racionalmente econômica das matas tropicais, precocemente chamada de Opep das Florestas – um exagero em referência aos países árabes produtores de petróleo – pode ser plausível, mas exigiria ações de países em patamares desproporcionais de desenvolvimento – ou melhor, desigualdade. Essa seria (mais uma) tentativa de Lula de exercer um algum soft power com potencial para atrair países como Malásia, Tailândia e Nova Guiné, República do Congo (não confundir com a vizinha e bem maior RDC), República Centro Africana, Camarões, Guiné Equatorial, Gabão, Panamá, Costa Rica e Nicarágua. A estratégia para tornar o Brasil protagonista aumentaria com o incremento de Guiana, Suriname, Venezuela, Colômbia, Equador, Peru e Bolívia, que já fazem parte do Parlamento Amazônico, reativado semana passada após uma década.