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BC mantém juros em 6,50% e diz que recuperação da economia será “mais gradual” após greve

Por Patrícia Duarte

SÃO PAULO, 20 Jun (Reuters) – O Banco Central manteve nesta quarta-feira a taxa básica de juros em 6,50 por cento ao ano, como esperado e pela segunda vez seguida, citando piora no mercado externo e, ao mesmo, recuperação “mais gradual” da economia brasileira neste ano após a greve dos caminhoneiros.

Com isso, segundo especialistas ouvidos pela Reuters, o BC indicou que não deve mexer tão cedo na Selic.

“O Copom entende que deve pautar sua atuação com foco na evolução das projeções e expectativas de inflação, do seu balanço de riscos e da atividade econômica”, afirmou o BC em comunicado, em meio ao movimento que levou à forte valorização do dólar nos últimos meses. “Choques que produzam ajustes de preços relativos devem ser combatidos apenas no impacto secundário que poderão ter na inflação prospectiva”, acrescentou.

Pesquisa da Reuters mostrou que 36 de 37 economistas esperavam que o Comitê de Política Monetária (Copom) mantivesse a Selic agora, sugerindo que repetidas declarações do BC de que não havia “relação mecânica” entre o câmbio e a política monetária limitaram as apostas em altas de juros, mesmo após o dólar atingir as máximas em dois anos, acima do patamar de 3,90 reais.

Desde a última reunião do Copom, em 16 de maio, o dólar chegou a saltar quase 7 por cento até o dia 7 deste mês, pico do período e quando fechou a 3,9258 reais. Em quatro meses até maio, a moeda norte-americana acumulou valorização de 17,5 por cento.

Diante disso, o BC intensificou ainda mais sua intervenção no mercado cambial e, deste então, o dólar tem se estabilizado ao redor do patamar de 3,75 reais.

Para o BC, o cenário externo seguiu mais desafiador e apresentou volatilidade em grande parte pela normalização nas taxas de juros em algumas economias avançadas, o que gerou ajustes nos mercados financeiros internacionais. “Como resultado, houve redução do apetite ao risco em relação a economias emergentes.”

Assim, o BC voltou a dizer que choques vindos da cena externa, leia-se câmbio, podem ser mitigados pela ociosidade na economia e expectativas de inflação ancoradas nas metas. “Portanto, não há relação mecânica entre choques recentes e a política monetária”, reiterou.

A autoridade monetária também citou a greve dos caminhoneiros, que durou 11 dias em maio e gerou forte desabastecimento no país todo, como um fator que “dificulta a leitura da evolução recente da atividade econômica”, mas que indicadores referentes ao mês passado e provavelmente a junho deverão refletir os efeitos dessa paralisação.

Assim, “o cenário básico contempla continuidade do processo de recuperação da economia brasileira, em ritmo mais gradual”. Até então, o BC se referia à recuperação como “consistente, mas gradual”.

“Vemos que a taxa (Selic) tem espaço e deve ser mantida em 6,5 por cento até o segundo semestre do ano que vem”, afirmou a economista-sênior do banco Santander, Tatiana Pinheiro. “Principalmente o que vai se destacar e servir de âncora para esse cenário é a ociosidade do cenário”, acrescentou.

O BC também ampliou sua projeção de inflação a 4,2 por cento em 2018, ante 3,6 por cento em seu último cálculo, pelo cenário de mercado. Para 2019, a conta recuou a 3,7 por cento, contra 3,9 por cento antes.

No cenário com juros e câmbio constantes, as projeções de inflação situam-se em torno de 4,2 e 4,1 por cento para 2018 e 2019, respectivamente, sobre cerca de 4 por cento antes.

Segundo a pesquisa Focus do BC mais recente, a inflação provavelmente terminará o ano a 3,88 por cento, abaixo do centro da meta de 4,5 por cento pelo IPCA com margem de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo, acelerando então a 4,10 por cento em 2019.

A pesquisa Reuters também mostrou que apenas 4 de 31 economistas que responderam a uma pergunta adicional esperavam que o BC elevasse os juros neste ano. A maioria dos 19 que também haviam respondido à mesma pergunta no levantamento de maio manteve suas projeções, e o restante dividia-se igualmente entre adiar e atrasar as apostas sobre o aperto monetário.

(Com reportagem adicional de Laís Martins)

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