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Episódios de violência e imbecilidade – o que está acontecendo com o Brasil?

Uma juíza questiona se a música “Roda Viva” é mesmo de autoria de Chico Buarque. Um pai é impedido de levar seu filho, que precisava fazer uma cirurgia sob risco de perder a visão, por causa de um bloqueio nas estradas. A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, celebra a contusão do jogador Neymar porque o jogador apoiou Jair Bolsonaro nas eleições. Um adolescente armado invade duas escolas, mata quatro pessoas e deixa dez feridos. Um homem ataca um músico de rua, em Curitiba, sem nenhuma razão aparente, com um cassetete. E, last but not least, vídeos mostram figuras públicas como Gilberto Gil e Ciro Gomes sendo hostilizadas no exterior — infelizmente, uma prática que se tornou comum entre os brasileiros.

Esses fatos ocorreram entre quinta-feira e domingo. São episódios que combinam, em maior ou menor grau, violência (física ou verbal) e imbecilidade. Diante disso, perguntemos: o que está acontecendo com o Brasil? Quando é que nos tornamos essa nação na qual é normal açoitar ou assassinar as pessoas, questionar o óbvio e deixar o rancor guiar a vida dos indivíduos?

Tomemos o vídeo em que o líder de um bloqueio impede um pai de levar seu filho a um hospital, para que uma cirurgia salve a visão do menino. Três vozes podem ser ouvidas. Uma é a do garoto, repleta de sofrimento; a outra é a do pai, tomada pelo desespero. Por fim, a que mais se destaca é a do homem que impede a passagem de ambos, temperada por um ódio absoluto e pela total falta de empatia ou generosidade. Como alguém, em nome de qualquer proposta política, pode ser tão vil? Como um ser humano pode ser tão cruel e insensível? Como a maldade pode existir em estado tão puro e abundante?

Vamos ao capítulo seguinte – a imbecilidade. Havia um caso correndo na Justiça, no qual o deputado Eduardo Bolsonaro tinha utilizado indevidamente a canção Roda Viva em uma mensagem na qual falava sobre a falta de liberdade de expressão e, por isso, foi questionado pelo autor da música. A Juíza responsável pela ação escreveu um despacho no qual afirmava que não havia comprovação de que Chico Buarque tinha escrito a partitura. Ora, isso – mesmo que seja mero jogo de cena – mostra uma idiotice sem limites. É o mesmo que duvidar que o Palácio do Planalto tenha sido desenhado por Oscar Niemeyer ou que Ary Barroso tenha composto “Aquarela do Brasil”.

Neste mundo em que vivemos, ninguém mais tem vergonha de mostrar sua ignorância, como a Juíza no caso “Roda Viva”. Ou demonstrar insensibilidade – como Gleisi Hoffmann fez em relação ao camisa 10 da seleção brasileira. Comemorar o sofrimento alheio, ainda que essa pessoa seja uma inimiga política, é de uma baixeza sem limites. Mas as pessoas não têm mais pudor em desejar o mal a terceiros ou comemorar desgraças alheias. Basta que o alvo dessas manifestações maléficas seja do outro lado do espectro político que tudo é permitido.

E o que dizer dos episódios de violência física? Pessoas ferindo, insultando ou tentando matar semelhantes, movidos apenas pelo ódio. Qualquer tipo de ataque bestial já é digno de condenação. Mas quando um jovem invade duas escolas com o propósito de matar randomicamente quem passar pela frente é sinal de que precisamos criar algum tipo de freio naquilo que motiva essas insanidades.

Muitos dirão: a culpa é de Bolsonaro. Em parte, até poderia ser, pelo discurso pouco empático e agressivo. Mas, na prática, o problema é muito maior que a conduta do presidente. Aliás, quando alguém como Bolsonaro é eleito ou perde as eleições por um pequeno percentual de votos, é sinal de que a sociedade mudou antes mesmo que o mandatário pudesse ter algum tipo de influência sobre a população.

Nós estamos, lentamente, deixando de ser cidadãos civilizados. E rumando para a imbecilidade em passos largos. Precisamos resgatar urgentemente nossa capacidade de agirmos como pessoas ponderadas – e deixarmos de louvar ignorantes que só nos levam à autodestruição.

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