A seleção brasileira, ontem, ganhou da Coreia do Sul e avançou para as quartas de finais na Copa do Mundo. Mas o grande comentário, nas redes sociais, sobre a competição no Qatar foi a mesa comandada por Ronaldo Fenômeno em uma churrascaria na cidade de Doha. O convescote, que contou com a presença de alguns jogadores do escrete canarinho, ocorreu no restaurante Nusr-et. Para quem não está ligando o nome à pessoa, é a aquela steakhouse cujo dono, o chef Salt Bae, faz alguns malabarismos para fatiar a carne e a finaliza com um uma pitada de sal grosso, jogada em cima do prato de uma forma, digamos, teatral.
O que provocou tantos comentários? Ora, os craques brasileiros degustaram um corte decorado com uma folha de ouro. O preço da brincadeira é alto: sai de R$ 1 500 a R$ 3 300. Trata-se, evidentemente, de uma extravagância. Mas os jogadores podem ser criticados por isso?
Esse restaurante é uma atração turística. Há anos, vemos vídeos com o chefe Bae nas redes sociais divertindo as pessoas. Muitos enxergam o ritual em que o churrasqueiro salga a carne (e nos preços cobrados) um espetáculo feito sob medida para novos ricos. Pode até ser. Mas, em última instância, o dinheiro é de Ronaldo e de seus amigos – e eles têm direito de fazer o que bem entenderem com a própria grana.
No fundo, podemos enxergar um certo preconceito atrás das críticas. Afinal, quase todos os comensais de Ronaldo Fenômeno (incluindo o próprio) são oriundos de famílias humildes. Muitos são negros. Estão torrando uma nota preta e sendo paparicados por um chef celebridade. Isso pode gerar ciumeira? Pode.
Temos que lembrar que, desde os tempos de Pelé, os jogadores – em menor proporção do que hoje – são acusados de ostentação. No caso do Rei do Futebol, porém, o único sinal exterior de riqueza que ele ostentou por muito tempo foi um Aero Willys 2600 (imagem) – o carro mais caro do Brasil em 1963. Mas, mesmo assim, ele ganhou o carro de graça de seu fabricante, que viu no jogador um excelente garoto propaganda.
Na esteira desse vídeo da churrascaria chique, um determinado jogador da seleção foi fotografado com um relógio que custava cerca de R$ 2 milhões. Novamente, houve apupos e críticas no mundinho digital. Pergunta-se: e daí? O rapaz roubou o relógio? Não. Fez algo ilegal para comprá-lo? Não. Portanto, se ele quiser gastar esse dinheiro dessa maneira, é problema dele.
Viver em mansões, dirigir Ferraris e desfilar com acessórios de ouro faz alguém jogar melhor ou pior? Isso depende de cada um. Para certas pessoas, o luxo é um incentivo para que se batalhe cada vez mais forte pelo sucesso; em outros casos, porém, esse estilo de vida pode levar à acomodação e à preguiça. A julgar pela carreira desses jogadores em seus times estrangeiros, entretanto, percebe-se que eles estão em plena ascensão profissional. Portanto, o dinheiro (pelo menos por enquanto) não fez mal a esses atletas.
No exterior, em especial nos Estados Unidos, a opulência dos ricos é vista com maior naturalidade do que no Brasil. Talvez pela herança católica que recebemos da colonização portuguesa, a riqueza gera críticas e inveja excessiva em solo brasileiro. É o que vemos quando as pessoas se revoltam porque os jogadores esbanjam um dinheiro que foi ganho literalmente com o suor do rosto.
As palavras do inesquecível maestro Antonio Carlos Jobim combinam perfeitamente com essa situação: “No Brasil, o sucesso é uma ofensa pessoal”.