Atentar contra a democracia é crime grave imperdoável, mas atacar o Judiciário consegue ser uma burrice maior ainda
Os prejuízos político, institucional e material do vandalismo bolsonarista em Brasília foram exaustivamente divulgados em menos de 48 horas. As investigações em busca dos perpetradores, organizadores e financiadores estão em andamento, afirmam as autoridades. Os aliados políticos do ex-presidente Jair Bolsonaro estão sob escrutínio por omissão, conivência ou participação de bastidores em uma tentativa canhestra de golpe. O colaboracionismo das forças de segurança é averiguado com lupa e pode atingir até o chão da tropa.
A autoestima exacerbada e a certeza fanática que participavam de uma cruzada pela salvação nacional permitiu que os invasores divulgassem amplamente suas barbáries nas redes sociais — até com registro escatológico. Ali tinha gente comum e besta com suas limitações instrumentalizadas ou quem vislumbrou alguma facilidade futura caso a suspeita infundada de fraude eleitoral vingasse.
Operação abafa
Por enquanto, a reação amarrou as forças políticas em torno de Lula (PT) depois que o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), foi afastado por 90 dias por ordem do Supremo Tribunal Federal (STF). Seguidor de Bolsonaro a ponto de desafiar seu partido, Rocha está na marca do pênalti. Junto estão o ex-ministro da Justiça, Anderson Torres, já com pedido de prisão decretado, suspeito de ter preparado o terreno nos poucos dias que ficou como secretário de Segurança do DF, assim como a cúpula da PM local. Augusto Aras, o procurador-geral da República alinhado com o ex-presidente e ex-candidato a uma vaga no STF, recebeu na segunda-feira (10) uma carta de 140 integrantes do MP. Eles querem que o caso receba especial atenção e pedem a revogação de ato que só permite forças-tarefa com indicados pelo chefe da PGR. Está claro que há desconfiança com ele, que ficará no mandato até setembro. Ou seja, se as investigações forem sérias, também poderão recair sobre outros, incluindo militares, policiais e, claro, parlamentares.
O fato de Lula não decretar o dispositivo de Garantia de Lei e da Ordem (GLO), colocando temporariamente as Forças Armadas no controle de Brasília, abafou qualquer gritaria contra algum autoritarismo de esquerda ou mesmo a possibilidade de uma quartelada desajeitada. Do jeito que ficou, discordar agora é abraçar o golpismo por excludência.
Arrumar a casa
Mas nem tudo é conspiração. Do lado do governo teve amadorismo. Se os alertas chegaram por parte dos militares e da PF, ninguém deu a devida atenção. Se não foram dados, pior ainda. Já a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) é uma contradição em sigla. Se Lula quiser alguma paz terá que fazer uma limpa também da porta para dentro. Senão, é quase certo que a busca pelos culpados falhará.
Fora isso, é aplicar a lei direitinho. Vai ter injustiça? Alguma é provável. Gente graúda deve escapar por alguma tecnicalidade e vai ter mané engaiolado por ninharia ou por falar demais. Só que ninguém vai para fuzilamento, pau-de-arara, solitária, trabalhos forçados e nem será jogado na ilha Queimada Grande. No fim e no início, temos Bolsonaro, que se não tivesse sido tratado como um excêntrico boquirroto e cheio dos rolos até ser tarde demais, quiçá a qualidade do debate político não tivesse recuado ao terraplanismo. Culpa também dos militares. Se lá nos anos 1980, quando o capitão falou abertamente em explodir bombas (na imagem, reportagem de Veja, edição de 28 de outubro de 1987), tivesse perdido a pensão e passado um tempo em cana, não teríamos gente simulando defecar em um salão do Supremo. Justo ali, na sede da instância que poderia aliviar as futuras condenações dessa gente cheia de fúria criminosa.
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