SuperBac criou método para produzir embalagens e descartáveis de fibra vegetal que reduziria corte de árvores e uso de químicos
A meta da biotech brasileira SuperBac para daqui até 10 anos é revolucionar o mercado de celulose a partir da produção em laboratório (in vitro). Se a ousadia funcionar, vai balançar o setor, pois permitirá a redução tanto de áreas plantadas quanto a quantidade de insumos químicos – poluentes – empregados na produção e no branqueamento da polpa celulósica. Com isso, a companhia pode atingir uma escala comercial e entrar de cabeça em um negócio que em 2020 somou 52 milhões de toneladas entre os 10 maiores produtores globais, de acordo com a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO). Cerca de 90% do algodão e 50% da madeira viraram celulose.
Para tanto, acreditam estar no lugar certo e na hora certa. Além do interesse geral na redução de impactos ambientais e nas melhorias industriais, o Brasil é o segundo maior produtor de celulose do mundo (22,5 milhões de toneladas em 2021) e o primeiro em fibra curta (19,5 m/t em 2021). De olho nesse mercado global, a SuperBac patenteou por 25 anos seu processo de celulose in vitro na Alemanha, onde fica sua unidade experimental, o que garantiria proteção comercial dentro da União Europeia e, a partir daí, nos Estados Unidos e demais países desenvolvidos.
Células-tronco
Mas qual é vantagem? O consumidor não vai notar tanta diferença, mas o mundo vai. O processo consiste na multiplicação celular em biorreatores que transformam matérias-primas em produtos – como as células-tronco humanas. Enzimas e microrganismos extraem a celulose sem a necessidade do convencional processo industrial químico a partir da extração de eucalipto e pinus. A celulose in vitro da empresa surgiu de uma parceira de pesquisa com a Universidade de Antioquia, na Colômbia. A aplicação dos princípios de células-tronco não é novidade, só que este permite um escala industrial viável. Os valores investidos não são revelados, mas o portfólio da SuperBac, que há 20 anos atua com tratamento de efluentes, agricultura e petróleo e gás, sugerem saúde financeira para aportes respeitáveis.
De acordo com o gerente de pesquisa e desenvolvimento (P&D) da SuperBac, Celso Santi Jr., ainda que não se tenham estimativas precisas sobre o potencial de redução dos parâmetros de produção em escala, há ganhos óbvios de sustentabilidade. A companhia acredita que os ganhos exponenciais só virão mesmo com produtos que utilizem fibra longa (produção brasileira foi de 2,5 m/t em 2021), como fraldas, cosméticos e descartáveis. “A indústria precisa atingir um nicho que vá além de embalagens e papel, obtendo retornos em escala de produtos de maior valor agregado”, afirmou Santi Jr.