Quando era adolescente, o tempo não parecia ser linear e palpável. As circunstâncias é que moldavam a duração de segundos, minutos e horas. Uma manhã sem ter o que fazer – ou fazendo algo que não gostava – durava uma eternidade. Mas uma tarde ao lado da namorada, por exemplo, passava inapelavelmente rápido demais. Para muitas pessoas que conheço, a vida segue assim mesmo na maturidade. Para mim, porém, o tempo está sempre acelerado – mesmo quando estou fazendo algo chatíssimo.
Durante a juventude, a sensação de que o tempo era algo relativo estava sintonizada com a impaciência que fervilhava dentro de mim. Não queria perder tempo com coisas que me desagradavam. E, quando era obrigado a fazer o que não gostava, o relógio parecia entrar em modo slow-motion. O resultado, em muitas ocasiões, foi uma busca desenfreada pela autoindulgência, querendo viver apenas situações prazerosas, sem perceber o tempo passar.
Muitas vezes me questionei, aos dezoito anos, se não deveríamos nos sentir de forma oposta. O ideal seria sentir os minutos voarem quando estivéssemos entediados – e ver o relógio prosseguir em marcha lenta quando estivéssemos vivendo uma situação agradável.
Infelizmente, o meu relógio interno da adolescência (e boa parte da juventude também) funcionou dessa maneira, rápido demais para o que gostava; devagar demais para aquilo que desagradasse.
Quando comecei minha vida profissional no jornalismo, essa sensação começou a mudar. Minha profissão tem inúmeros aspectos positivos, mas também carrega uma carga consideravelmente negativa em seu bojo. E, no início da carreira, carregar um piano de coisas chatas é privilégio dos mais jovens – um prato cheio para que o tempo passasse devagar demais. Só que abracei esse lado chato do jornalismo com resignação. Afinal, era um rito de passagem necessário para continuar no jogo e poder fazer, no futuro, o que gostava.
Mas esse ajuste foi apenas no campo profissional. Somente mais tarde, aos 37 anos, é que mudei minha percepção sobre o correr do tempo na vida pessoal. Foi quando decidi que diputaria maratonas. O treino para essa modalidade de esporte é pesado e, muitas vezes, solitário. É preciso dominar a cabeça e a impaciência depois de treinar, por exemplo, durante duas horas seguidas.
Depois disso, o meu relógio da alma pareceu se ajustar de forma permanente. O efeito colateral? Comecei a experimentar uma sensação contínua de que o tempo estava acelerado, aquela sensação de que o dia passou em um instante.
Quando era jovem, muito jovem, ouvi pela primeira vez um de meus álbuns favoritos: “Dark Side of the Moon”, do Pink Floyd (sei que é um clichê listar esse disco como um dos meus prediletos, mas prefiro, neste quesito, a honestidade). A terceira faixa do LP, “Time”, resume bem os sentimentos de quem vê, com certa perplexidade, a vida passar em ritmo acelerado:
“Ticking away the moments that make up a dull day/ Fritter and waste the hours in an offhand way (Contando os momentos que fazem um dia muito monótono/Frito e desperdiço as horas de um jeito descuidado)”.
“Every year is getting shorter, never seem to find the time/ Plans that either come to naught or half a page of scribbled lines (“Cada ano está ficando mais curto, parece que nunca encontro tempo/ Planos que dão em nada ou meia página de linhas rabiscadas”)”.
Diante dessa rapidez com a qual o tempo parece correr, não podemos ficar parados. É preciso recuperar um pouco daquele ímpeto juvenil e daquela impaciência de antes. Não podemos ser reféns de uma vida monótona. Precisamos compreender que, como na pintura de Salvador Dalí, nossos relógios estão derretendo. E não há tempo a perder na busca por uma vida com mais realizações.