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Só Dilma 2 e Temer gastaram menos no corporativo – mas há marmitas suspeitas

Despesas repetidas e redondas de Bolsonaro em restaurante despertam atenção. Em um dia foram gastos R$ 100 mil com quentinhas

A expectativa pela quebra de sigilo de 100 anos decretado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) sobre os gastos do Cartão de Pagamento do Governo Federal (CPGF), conhecido como cartão corporativo, teve fim nesta quinta-feira (12). No período em que esteve na Presidência da República (2019-2022), Bolsonaro – e equipe – usaram R$ 27.621.657,23 em recursos públicos – Lula gastou mais. Quando corrigido pela inflação, o valor chega a R$ 32.659.369,02. O problema não estaria no montante, mas em estranhezas que devem ser averiguadas. A maior delas são os R$ 109.266,00 pagos ao modesto restaurante Sabor de Casa, no centro de Boa Vista, em Roraima, em 26 de outubro de 2021.

O estabelecimento vende marmitas a R$ 17 e frangos assados por um pouco mais. Daria para alimentar 6,4 mil refugiados venezuelanos (sem refrigerante ou suco). Bolsonaro só esteve na cidade por um dia, o que dificulta justificar a maior compra única de alimentação no CPGF durante todo o mandato. E há também dezenas de despesas faturadas por redondos R$ 9 mil em uma mesma lanchonete em São Paulo. Outra estranheza.

Pet shop

O uso do cartão corporativo de Bolsonaro predominou em gastos com hospedagem, que concentraram 49,5% do total. Nove das 10 maiores contas foram feitas em hotéis do Guarujá, litoral paulista, frequentado pelo ex-presidente em vários finais de semana e feriados. O que não surpreende. Em um dos estabelecimentos o ex-mandatário deixou cerca de R$ 1,5 milhão entre 2019 e 2022.

Gastos em alimentação e mercados concentraram quase 20% do total. Há ainda R$ 668.824,56 em postos de combustível, R$ 31.440 com excesso de bagagem em viagens aéreas de servidores e R$ 1.809,94 em um pet shop. A primeira despesa de Bolsonaro foi realizada em 4 de janeiro de 2019: R$ 303,78 em uma rede de supermercados. A última, em 4 de dezembro de 2022, curiosamente, também no mesmo estabelecimento, ao custo de R$ 54,66.

Somente os ex-presidentes Michel Temer (MDB) e Dilma Rousseff (PT) gastaram menos que Bolsonaro. O valor utilizado pelo ex-presidente é menor que o do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em cada um de seus dois primeiros mandatos. Os valores foram atualizados pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) anual:

  • Lula 1: R$ 59.075.679,77
  • Lula 2: R$ 47.943.615,34
  • Dilma 1: R$ 42.359.819,13
  • Dilma 2: R$ 10.212.647,25
  • Temer: R$ 15.270.257,50
  • Bolsonaro: R$ 32.659.369,02

Valores atualizados pelo IPCA

Para que serve

O CPGF foi criado pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), em 2001, para atender a despesas de pequeno vulto (aquelas que não ultrapassem o limite estabelecido na Portaria MF nº 95/2002); atender a gastos eventuais, como em viagens e serviços não programados que exijam pronto pagamento. Não é o presidente quem opera o cartão, mas sua equipe (assessores, secretários, ajudantes de ordens), por meio de vários exemplares com o mesmo número. Ex-presidentes também usam de outro número de CPGF, já que conservam o status de autoridades públicas e se valem de serviços de escolta, veículos, motorista e assessoria pessoal.

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