Por Maria Carolina Marcello
BRASÍLIA (Reuters) – O pré-candidato do PSL à Presidência da República, deputado Jair Bolsonaro, lidera a corrida pelo Palácio do Planalto no cenário sem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com 17 por cento das intenções de voto, seguido de Marina Silva (Rede), com 13 por cento, mostrou pesquisa CNI/Ibope nesta quinta-feira, que também aponta espaço para crescimento dos candidatos com estrutura partidária em cima dos votos brancos e nulos e dos indecisos.
Como a margem e erro da pesquisa é de 2 pontos percentuais para mais ou para menos, a distância entre Bolsonaro e Marina significa que eles estão no limite do empate técnico, explica o gerente executivo de Pesquisa e Competitividade da CNI, Renato da Fonseca.
“Eu diria tranquilamente que Jair Bolsonaro está na frente de Marina, mas o que acontece, a gente precisa trabalhar com margem de erro”, explicou Fonseca a jornalistas.
“A gente usa o termo tecnicamente empatados, no limite da margem de erro, mas de fato você tem, pela pesquisa, Jair Bolsonaro na frente, Marina em segundo, seguidos por Ciro Gomes e Geraldo Alckmin”, disse, referindo-se ao cenário que não considera Lula como candidato.
Neste cenário, também encontram-se em empate técnico Ciro (PDT), com 8 por cento, e Alckmin (PSDB), com 6 por cento. A situação de empate técnico se repete entre o tucano e o senador Alvaro Dias (Podemos), que tem 3 por cento.
Candidato do PT no cenário sem Lula, o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad, aparece com apenas 2 por cento.
Já no levantamento que traz Lula como candidato, o ex-presidente lidera com 33 por cento, seguido por Bolsonaro (15 por cento), Marina (7 por cento), Ciro (4 por cento), Alckmin (4 por cento) e Alvaro Dias (2 por cento).
Preso desde o dia 7 de abril para cumprir pena após ter sido condenado em segunda instância por corrupção e lavagem de dinheiro no processo do tríplex do Guarujá, no litoral paulista, o ex-presidente deve ficar impedido de concorrer devido à Lei da Ficha Limpa. O petista alega inocência e ser alvo de uma perseguição política justamente para impedi-lo de concorrer.
TERRA DE NINGUÉM
Fonseca chama a atenção para os altos índices de brancos e nulos. No primeiro cenário, sem Lula, 33 por cento dos entrevistados votariam em branco ou nulo. Outros 8 por cento não responderam ou disseram não saber em quem votar.
No segundo cenário, com Lula, os brancos e nulos somam 22 por cento, enquanto os indecisos são 6 por cento. Em junho de 2014, brancos e nulos somavam 8 por cento na pergunta estimulada.
Para o gerente executivo, o elevado percentual oferece um nicho de crescimento a candidatos que conseguirem uma interlocução com esses eleitores. Ele avalia que partidos com maior estrutura e mais recursos podem ser melhor sucedidos nessa tentativa quando a campanha começar oficialmente, em meados de agosto.
“Você tem um campo para crescer no branco e nulo… Provavelmente com a campanha eleitoral e com a discussão, esse pessoal pode acabar migrando –e acho que isso deve acontecer– para um dos candidatos, aquele que conseguir trazer esse eleitor que votaria no Lula para votar nele”, disse, lembrando que o número de brancos e nulos cresce no cenário sem o ex-presidente.
“A maior dificuldade fica com Jair Bolsonaro, com Marina Silvam que são candidatos que têm partidos com pouco tempo de televisão, com poucos recursos. Eles vão enfrentar, quando começar realmente a campanha na televisão… candidatos do MDB, do PT e do PSDB com uma força econômica e disposição de tempo muito maiores, e isso pode virar o jogo”, avaliou.
Fonseca lembra ainda que, por ora, os candidatos de esquerda são os maiores beneficiados pela saída de Lula do cenário eleitoral –Marina sobre 6 pontos percentuais no cenário sem o petista, e Ciro ganha 4 pontos percentuais, enquanto outros candidatos desse campo passam a configurar na lista que alcança ao menos 1 por cento.
Os índices de brancos e nulos já permitem, no entanto, afirmar que são boas as possibilidades de um grande número de abstenções e votos brancos e nulos nas próximas eleições, avaliou Fonseca.
“Tudo está sinalizando que a gente vai ter nessa eleição um percentual maior de brancos e nulos, ou de abstenção, pessoas que não vão votar, do que ocorreu nas eleições de 2014.”
“Branco e nulo não é indeciso, é o cara que diz que vai votar branco ou nulo. Ele está insatisfeito com alguma coisa”, explicou.
REJEIÇÃO E TEMER
Na pergunta espontânea, em que não são oferecidos nomes aos entrevistados, Lula novamente lidera, com 21 por cento, seguido de Bolsonaro, com 11 por cento. Ciro e Marina aparecem com apenas 2 por cento, enquanto Álvaro Dias e Alckmin, registram apenas 1 por cento.
Lula e Bolsonaro também ocupam as primeiras posições, junto com o senador Fernando Collor de Mello (PTC-AL), no ranking de rejeição do eleitorado. Dentre os entrevistados, 32 por cento responderam que não votariam de jeito nenhum em Collor, mesmo percentual de Bolsonaro e um ponto a mais que o registrado por Lula.
Encomendada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), a pesquisa do Ibope mostrou também que a avaliação ruim/péssima do governo do presidente Michel Temer passou para 79 por cento em junho, ante 72 por cento em março. A avaliação positiva do governo ficou em 4 por cento, em comparação a 5 por cento. Para 16 por cento, a avaliação foi regular, ante 21 por cento.
Pouco depois da divulgação da pesquisa, em cerimônia no Palácio do Planalto, Temer voltou a listar os feitos de seu governo e afirmou que ele será julgado pela história.
“Nesses dois anos de governo, eu penso, nós fizemos mais do que em muitos anos anteriores”, disse o presidente em seu discurso, citando ações nas áreas fiscal e social, além das reformas realizadas.
“A história é que vai registrar, a história é que vai dizer o que aconteceu nesses dois anos, dois anos e meio de governo”, acrescentou.
A pesquisa verificou também um crescimento da percepção dos entrevistados de que o noticiário recente sobre o governo é desfavorável e dentre as notícias mais lembradas pela população estão justamente a greve dos caminhoneiros, a corrupção no governo e o aumento no preço dos combustíveis, temas sensíveis ao eleitorado em geral.
O levantamento foi feito de 21 a 24 de junho, com 2 mil entrevistados, sob o registro de número BR-02265/2018.
(Edição de Alexandre Caverni)