PF vai tentar descobrir se houve uma ação organizada do governo anterior para fragilizar indígenas e favorecer as quadrilhas que controlam o garimpo ilegal
A Polícia Federal (PF) abriu uma investigar para determinar se houve crime de genocídio na omissão assistência dada pelo governo federal aos yanomami, em Roraima. O inquérito foi aberto a pedido do ministro da Justiça, Flávio Dino, e vai tramitar naquele estado.
Na segunda-feira (23), Dino encaminhou o ofício com o pedido de apuração ao diretor-geral da PF, Andrei Rodrigues. No documento, o ministro reiterou os pedidos ignorados de ajuda contra a violência decorrente do garimpo ilegal, bem como a ausência de ações e serviços de saúde aos indígenas, que foram afetados por doenças, fome e contaminação da água por mercúrio.
Esses elementos, segundo Dino, reforçam uma possível intenção de causar lesão grave à integridade ou mesmo provocar a extinção ou migração do grupo originário. No ofício, Dino solicita que a PF investigue a participação ou a omissão de ex-integrantes do governo, além dos envolvidos em toda a cadeia do garimpo ilegal, incluindo financiadores, proprietários de equipamentos, garimpeiros, barqueiros, operadores de máquinas, pilotos do avião e vigias envolvidos nessas operações. A suspeita é que até 20 mil garimpeiros tenham se instalado na reserva yanomami no últimos anos. As suspeitas recaem sobre autoridades ambientais e de saúde, agentes da Fundação Nacional dos Povos Indígenas, empresários e políticos locais, militares do Exército, integrantes do Ministério dos Direitos Humanos e até a cúpula do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Nos últimos anos, a situação de contaminação e fome levou à morte 570 crianças, das quais 505 tinham menos de 1 ano. Em 2022, foram confirmados 11.530 casos de malária no Distrito Sanitário Especial Indígena Yanomami (Dsei-Y). As faixas etárias mais afetadas estão entre os maiores de 50 anos, seguidas pelas faixas de 18 a 49 anos e de 5 a 11 anos.
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