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Vamos olhar para frente em vez de remoer o passado

Ontem, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se meteu em uma discussão desnecessária ao classificar o ex-presidente Michel Temer de “golpista” e dizer que no mandato do emedebista (e no de seu antecessor, Jair Bolsonaro) os benefícios sociais criados durante as gestões do Partido dos Trabalhadores foram destruídos.

Temer retrucou Lula nas redes sociais: “E sobre ele ter dito que destruí as iniciativas petistas em apenas dois anos e meio de governo, é verdade: destruí um PIB negativo de 5% para positivo de 1,8%; inflação de dois dígitos para 2,75%; juros de 14,25 para 6,5%; queda do desemprego ao longo do tempo de 13% para 8% graças a reforma trabalhista; recuperação da Petrobras e demais estatais graças a Lei das Estatais; destruí a Bolsa de Valores que cresceu de 45 mil pontos para 85 mil pontos”.

Quando lembramos que o MDB é um dos partidos da base de apoio do governo e que Temer é um dos caciques da agremiação, é o caso de se perguntar: vale a pena jogar para a torcida e cutucar o ex-presidente? Faz sentido fazer isso em um momento que o país precisa de pacificação? Não seria melhor olhar para frente em vez de ficar remoendo o passado?

É altamente compreensível (embora não seja o ideal) que Lula e seus ministros usem um discurso duro contra Bolsonaro e seus seguidores. Mas o que ele ganha jogando Michel Temer – um hábil articulador de forças políticas – na oposição?

Ao classificar o impeachment de Dilma Rousseff como “golpe”, Lula também terá de defender o mandato de sua correligionária. E é aqui que mora o perigo. Tivemos, neste período, uma combinação explosiva de estagnação econômica e inflação, além de um crescimento na taxa de desemprego de 7 % para mais de 10 %.

Durante a campanha eleitoral, Dilma foi quase um tema proibido. Falou-se pouco na ex-presidente, que voltou à ribalta nas comemorações de 30 de outubro. Dias atrás, uma página publicada pelo governo na internet tratou o afastamento de 2016 como um “golpe”, um indicador de que esse discurso seria utilizado daqui para frente.

Ao abraçar sua sucessora e defender seu mandato, Lula pode abrir espaço para críticas da oposição e, ao mesmo tempo, plantar inseguranças na chamada Faria Lima – especialmente porque a guerra de narrativas continua a todo vapor.

Um exemplo disso é a batalha digital que se trava nas redes sociais sobre a tal moeda comum que o governo brasileiro negocia com a Argentina. Como o ministro Fernando Haddad já disse, essa seria uma moeda para compensação do comércio entre os dois países – e não uma moeda única, nos moldes do Euro na comunidade europeia. Mas o que se propagada no ambiente eletrônico é justamente que o Real vai acabar.

Segundo um estudo da Vox Radar, entre os dias 21 e 24 de janeiro, houve mais de 700 000 interações sobre o tema nas redes, em um universo de 16 200 postagens. Destes posts, as fake news representaram 53 % do total, aludindo ao termo “moeda única”. Na mesma pesquisa, outro detalhe chama atenção: das 10 publicações com maior engajamento, 9 são negativas e espalham o boato da tal “moeda única”.

Diante desse cenário, Lula mais ganharia se unisse o MDB em torno de si, em vez de criar uma cizânia inútil. Exaltar temas que são simpáticos à esquerda podem incomodar os bolsonaristas de plantão e criar revolta no conservadorismo. Mas, na prática, esse tipo de atitude provoca ruídos indesejados na conquista e manutenção de aliados no Congresso.

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