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As semelhanças entre os casos Madoff e Americanas

Quase que simultaneamente ao início da crise envolvendo a Lojas Americanas no Brasil, a Netflix lançou um documentário (imagem), dividido em quatro capítulos, sobre o financista Bernie Madoff, o criador da maior fraude existente no mercado financeiro – uma pirâmide com investimentos fictícios superiores a US$ 60 bilhões.

O que Madoff e Americanas têm em comum? Muita coisa.

Em primeiro lugar, os dois casos tiveram uma fraude contábil como estopim de uma debacle. No caso do gestor nova-iorquino, ele inventou um portfólio inexistente e justificou ganhos imaginários a partir de transações fictícias no mercado de ações. Como se sabe, ninguém passa pelo mundo da renda variável sem perdas eventuais. Bernie Madoff, no entanto, não registrava uma só perda em seu fundo, o que criava em seus clientes uma fidelidade canina. Mas tudo o que ele fazia era captar dinheiro novo para pagar os resgates de seus cotistas. Em relação às Americanas, a fraude consistia em não contabilizar, durante anos, operações de crédito (chamadas de “risco sacado”) de bancos nos balanços da empresa, que somaram R$ 20 bilhões.

Os dois episódios fizeram vítimas de todos os tamanhos. Madoff impingiu perdas a bilionários e a aposentados que contavam com suas retiradas mensais para sobreviver. Já a Americanas criou prejuízo (potencial ou concreto) não apenas para personagens graúdos, como bancos e empresas multinacionais – mas também acionistas, debenturistas e fornecedores de pequeno porte.

Qual foi a motivação desses dois incidentes? Ambição. Não se sabe ao certo se os autores da fraude da Americanas foram unicamente os ex-executivos da empresa – ou se estes indivíduos tiveram a ajuda de outros ou foram acobertados por terceiros. Mas o ponto de partida para estabelecer as bases da contabilidade criativa da empresa foi um só: a ganância. A mesma avidez por dinheiro que levou Madoff a inventar um esquema Ponzi que durou por anos (e acabou sobrevivendo durante décadas por conta, também, da ambição de alguns investidores).

Tanto os perpetradores da fraude das Americanas como o financista que inventou lucros inexistentes partilhavam uma outra característica: o sangue frio. Fraudes ocorrem a torto e a direito no mundo. Mas esquemas desonestos apenas conseguem durar muito tempo quando seus administradores têm nervos de aço.

Os dois casos também contaram com mecanismos frouxos de controle. Com Madoff, a Security Exchange Commission (o equivalente americano à Comissão de Valores Mobiliários) teve por várias vezes a oportunidade de promover uma varredura nas contas inexistentes de seus investimentos, mas nada fez. E, com a Americanas, os balanços fajutos foram engolidos integralmente por seus auditores.

Por fim, esses episódios têm por trás de cada um a credibilidade de seus controladores. Madoff era um dos nomes mais respeitados de Wall Street. Já a Americanas tinha como nomes de referência os três homens mais ricos do país: Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira.

Diante desses pesos-pesados, só havia um tipo de reação: idolatria. Nunca um investidor ou agente financeiro iria desconfiar que fraudes estavam sendo cometidas nos domínios de gente tão graúda.

Hoje, o nome de Madoff é sinônimo de estelionato e crime financeiro. Mas, entre a década de 1980 e o início dos anos 2000, ele foi um dos maiores tubarões do mercado, reverenciado como um verdadeiro mago das finanças. A divulgação do embuste jogou seu nome na lama. Diante disso, temos de perguntar: qual será a reputação de Lemann, Telles e Sicupira após a fraude contábil em sua empresa de varejo?

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