O Fusca, um dos símbolos da indústria automobilística mundial, é um carrinho reconhecido em qualquer canto do planeta. Já estrelou filmes e ilustrou capas de discos. Vendeu mais de 23 milhões de unidades em 84 anos de história. Um design clássico, perpetrado pelo legendário Ferdinand Porsche, ele foi o primeiro carro de várias gerações – eu mesmo aprendi a dirigir em um desses, modelo 1973, vermelho e com motor de 1.500 cilindradas.
Concebido durante o Nazismo, o Fusca nasceu sob o nome de Kdf-Wagen (“Kdf” é a sigla de “kraft durch freude”, que quer dizer “força através da alegria”), para ser uma espécie de carro popular da Alemanha. A partir de 1941, começou sua produção, em pequena escala. Mas o carrinho só ganharia escala industrial em 1948. Suas raízes nazistas foram esquecidas e ele se espalhou pelo mundo, ganhando fãs ardorosos nos quatro cantos do planeta.
Mas… e se Ferdinand Porsche copiou as linhas do Fusca de outro projeto?
Na fotografia que ilustra esse texto está o Tatra T97, um veículo produzido na antiga Tchecoslováquia de 1936 a 1939 – antes, portanto, que o carrinho da Volkswagen saísse da linha de produção. A semelhança dos modelos é espantosa e a coincidência de conceitos também: o motor, refrigerado a ar, fica na traseira do chassi. Para tornar o caso mais complicado, Porsche havia feito um protótipo do VW em 1932, ligeiramente diferente do Fusca e ao qual poucas pessoas tiveram acesso.
A trama, no entanto, pode piorar em termos de complicação.
Em 1925, um estudante austríaco de engenharia, chamado Bela Barenyi, desenhou um projeto praticamente idêntico ao Fusca. Barenyi, mais tarde, trabalhou na Mercedes-Benz e foi o inventor do conceito de carroceria de deformação programada, que torna os veículos mais seguros (a célula dos passageiros fica preservada enquanto a frente e a traseira absorvem o choque e se desintegram). O primeiro carro a ser produzido com esse conceito foi o Mercedes 220b (aquele com rabo de peixe, também conhecido como W111), em 1959.
Mas esse enredo tem como ficar ainda mais complicado.
Na década de 1930, a Citroen criou um projeto muito parecido com o do Fusca – o 2CV (Deux Chevaux – “dois cavalos”) e chegou a produzir 250 unidades em 1939. Com a invasão dos nazistas, porém, os franceses esconderam todos os modelos de 2CV, enterrando vários na fábrica da Citroen. Os grandes fãs do modelo, inclusive, são partidários da tese de que os alemães encontraram um exemplar do 2CV e o copiaram para fazer o Fusca. Mas essa teoria não parece fazer sentido, uma vez que Ferdinand Porsche já havia feito um protótipo do carro em 1932.
O conceito do Fusca é simples – e baseada no design vigente dos grandes carros da década de 1930 e início de 1940, com traseira em fastback. O que a Tatra, Barenyi e Porsche fizeram foi uma evolução natural da tendência da época, trazida para um modelo compacto.
O Fusca, que existe até hoje lá fora (com motor dianteiro e conhecido como “Beetle” – besouro – devido ao formato da carroceria), tem uma vida longeva porque já nasceu como um clássico. E ficou nos corações de muita gente, especialmente no Brasil e no México. Foi também um sucesso no final dos anos 1950 e na década seguinte nos Estados Unidos, principalmente por conta de uma campanha de publicidade revolucionária para a época.
O anúncio, minimalista, trazia uma fotografia do Fusca e um título instigante: “Think Small” (“Pense pequeno”). Um contraponto ao jeito americano de ser, sempre pensando grande (e comprando carros enormes). Naquela época, o VW custava uma pechincha e foi visto como um carrinho descolado e diferente, feito sob medida para um período cujo maior ícone seriam os Beatles (um trocadinho envolvendo a palavra “beat” – batida – e “beetles” – besouros –, como os fuscas eram chamados nos EUA).