Por Luciano Costa
SÃO PAULO (Reuters) – O enorme potencial do Brasil para a geração de energia limpa tem atraído a atenção de grandes petroleiras interessadas em diversificar investimentos em preparação para uma esperada transição energética global que pode levar a uma redução da importância dos combustíveis fósseis nas próximas décadas.
Os primeiros negócios ainda são tímidos, concentrados em ativos de pequeno porte, estudos e pesquisas, mas passam por diversas tecnologias que vão da energia solar a projetos eólicos no mar e envolvem gigantes globais como a anglo-holandesa Shell, a francesa Total, a norueguesa Equinor e a estatal local Petrobras.
“Todas as ‘majors’ estão fazendo movimentos similares, em três grandes grupos: tecnologias de eficiência energética, de captura e armazenamento de carbono e a aposta na transição da matriz para renováveis”, disse à Reuters o gerente executivo de Estratégia e Organização da Petrobras, Rodrigo Costa.
“As duas primeiras dimensões são mais comuns, e a terceira depende mais do perfil de cada empresa, da vantagem competitiva de cada uma”, adicionou.
A francesa Total, por exemplo, tem avançado gradualmente no segmento de geração de energia solar no Brasil por meio da compra de projetos fotovoltaicos em desenvolvimento. A empresa, que fechou o primeiro negócio local no setor no ano passado, fechou no mês passado uma nova aquisição.
A companhia tem como meta global uma participação de 20 por cento de renováveis em seu portfólio nos próximos 20 anos, além da ampliação de sua capacidade de geração de energia por renováveis para 5 gigawatts ao redor do mundo nos próximos cinco anos.
“Nesse contexto, a energia solar tem um papel importante e a Total vem investindo nesse setor desde 2011… A Total entende que a energia solar é uma alternativa com grande potencial de crescimento”, afirmou a petroleira francesa em nota.
A subsidiária da companhia para renováveis, Total Eren, conta atualmente com 140 megawatts em capacidade no Brasil, entre projetos em construção e em operação.
A norueguesa Equinor (ex-Statoil) também entrou no setor solar brasileiro, ao anunciar em outubro do ano passado a criação de uma joint venture com a também norueguesa Scatec Solar para investir em geração fotovoltaica no país. O negócio teve início com a compra de uma fatia em um complexo de 162 megawatts no Ceará.
Na época, a companhia disse que a transação era “um primeiro passo rumo à indústria de energia solar”.
Além delas, outras petroleiras também se movimentam no segmento, segundo o diretor da consultoria Greener, especializada em energia solar, Márcio Takata.
“Temos conversado com alguns ‘players’ de petróleo… Eles precisam diversificar e eles têm dinheiro, têm muito capital, então a gente vai ver aí sem dúvida uma movimentação dessas empresas de petróleo. Não só as que já estão no Brasil, como outras”, afirmou.
ESTUDOS
Além da aquisição e construção de usinas solares, as petroleiras têm avaliado outras tecnologias renováveis ainda incipientes no país.
A Shell, por exemplo, anunciou um aporte de até 34,7 milhões de reais nos próximos cinco anos em um Centro de Inovação em Novas Energias no Estado de São Paulo que focará pesquisas avançadas sobre conversão de energia solar em produtos químicos, armazenamento de energia e transformação de gás natural em combustíveis menos poluentes.
Na época, o presidente da Shell Brasil, André Araújo, disse que o investimento evidenciou a “seriedade e compromisso com pesquisas que trarão avanços em direção à transição energética”.
A Petrobras também tem investido em pesquisas relacionadas à energia limpa– a estatal já desenvolveu um projeto experimental de geração solar e atualmente realiza um levantamento sobre o potencial do litoral brasileiro para a geração eólica em alto mar, em parques conhecidos como “offshore”.
“A indústria de petróleo e gás já tem experiência em fazer obras no mar, a Petrobras conhece muito. Então partimos para fazer medições, instalamos torres anemométricas em plataformas. A intenção é continuar fazendo isso, é algo pioneiro que o Brasil ainda não explora, mas a Europa desenvolve bastante”, disse o coordenador de P&D da gerência de eficiência energética do centro de pesquisas da Petrobras, Cenpes, André Bello.
Além desses mapeamentos, que abrangem inicialmente os litorais do Rio Grande do Norte e do Ceará, a Petrobras tem avaliado desafios logísticos para usinas offshore no Brasil. A Coppe, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), é parceira nas pesquisas, que devem se estender até 2021.
Eventuais resultados das pesquisas poderão se somar, no futuro, aos cerca de 100 megawatts que a petroleira brasileira já possui em parques eólicos em operação no Rio Grande do Norte junto a parceiros.
(Por Luciano Costa)