Como todos sabem, a executiva Esther Crawford – aquela que foi fotografada dormindo no trabalho para conseguir cumprir os prazos estabelecidos em seu projeto – foi demitida pelo Twitter nesta leva em que duzentas pessoas foram desligadas da empresa. A foto de Esther dormindo no escritório foi republicada por todos os veículos de imprensa nesta semana.
Anteontem, o jornal O Estado de S. Paulo deu uma nota sobre o assunto e publicou alguns comentários sobre a demissão da responsável pelo Twitter Blue, como era chamado o plano de assinatura da rede social de microblogs. Algumas das frases publicadas no portal do jornal: “Nunca se mate por empresa nenhuma”; “Essa vai para aqueles amiguinhos que dizem que dão o sangue pela empresa”; “Nenhuma empresa merece o nosso sono, nossa saúde e todo o nosso tempo”; “É sempre bom lembrar que você pode ser diretor, mas se não for o dono, é apenas mais um empregado explorado pelo capital”.
Em primeiro lugar, é lamentável o que aconteceu com Esther Crawford. Vê-se claramente que ela é uma profissional capacitada e comprometida até o último fio de cabelo com suas responsabilidades dentro de uma estrutura corporativa. Muitos empreendedores viram a noite trabalhando – mas são poucos os executivos que fazem isso. Essa atitude é algo que salta aos olhos e mostra uma capacidade de trabalho extraordinária que deveria ter sido recompensada pela empresa, que preferiu fechar o projeto (do jeito que foi pensado originalmente) e mandar toda a equipe embora, incluindo sua líder.
Mas é preciso argumentar algo importante: Esther Crawford se dedicou muito à empresa, é verdade, mas também estava investindo em sua carreira. Acreditou que o seu projeto poderia levá-la a um novo patamar profissional e não poupou esforços para que fosse um sucesso. Isso incluiu o que os americanos chamam de “burn the midnight oil” (“queimar o óleo da meia-noite”, usada para descrever quem vira a noite trabalhando ou estudando). Ela apostou alto e, infelizmente, foi demitida. Mas este esforço não passou despercebido pelas demais empresas de tecnologia. Ou seja, seu telefone deve ter tocado bastante nos últimos dias.
Outro ponto importante é que, por mais errado que possa ser, dormir no trabalho é algo que sempre aconteceu nas empresas americanas de tecnologia. São inúmeros os casos deste tipo desde os anos 1980. A diferença para este episódio está no surgimento das redes sociais, que transformaram a imagem de Esther dormindo em um ícone (a ser elogiado ou criticado)
A executiva, depois da publicação de sua foto, atraiu muita atenção de haters. E sua demissão trouxe outra onda de comentários maldosos sobre a sua dedicação ao trabalho, que teria sido excessiva na visão de seus oponentes.
Dias atrás, a executiva publicou um comentário voltado para esses indivíduos que são guiados pelo ódio em suas interações nas redes sociais. Ela disse: “Se você não consegue ser uma figura pública, evite correr riscos e fique longe de todas as funções de liderança. Não construa ou faça nada disruptivo. Mantenha-se pequeno e invisível e, acima de tudo, fique em silêncio e com medo do que os outros pensam”.
Esther correu riscos e mostrou uma determinação que a maioria das pessoas não tem. Isso incomoda muito aqueles que estão imersos em uma vida medíocre ou experimentando uma carreira profissional estagnada e desinteressante. Para quem se arrasta para ir ao trabalho ou odeia as segundas-feiras, a iniciativa da ex-diretora do Twitter é como um tapa na cara – daí toda a raiva que o caso provocou.
O mundo, porém, precisa de mais pessoas como Esther Crawford. Não só nas empresas, como também nas escolas, no governo, na saúde e na política. Sem pessoas dispostas ao sacrifício pessoal, a humanidade não teria evoluído ou progredido. Por isso, palmas para Esther. Ela, com certeza, estará novamente à frente de um projeto do tamanho de suas expectativas profissionais e de sua capacidade de trabalho.
Uma resposta
Viva a Esther.
Grandes conquistas, grandes riscos, alguém já disse…