No último domingo, o vice-presidente do Partido dos Trabalhadores, Alberto Cantalice (https://pt.org.br/alberto-cantalice/ ), publicou em sua conta do Twitter uma mensagem surpreendente: “Daniel Ortega, Nicolás Maduro, Vladimir Putin e Diaz-Canel não são de esquerda. São ditadores. Quem combate Donald Trump e Jair Bolsonaro não pode conciliar com déspotas que se dizem aliados do nosso campo”.
O post foi publicado logo após surgir a notícia de que o Brasil havia se recusado a assinar um relatório da Organização das Nações Unidas que condenava a repressão política na Nicarágua e a ação do ditador Ortega em suprimir a cidadania nicaraguense de seus opositores. Cantalice aproveitou o ensejo para criticar também detonar os chefes de estado da Venezuela, Rússia e Cuba, mas ressalvando que todos os citados “não eram de esquerda”.
O petista fez bem em chamá-los pelo que são: di-ta-do-res. Mas errou ao dizer que não são de esquerda. Todos são esquerdistas de carteirinha, até porque foram até o final da cartilha socialista, suprimindo direitos básicos e desligando a democracia da tomada.
Não há livre iniciativa de fato na Nicarágua, Venezuela, Rússia e Cuba. Conseguem sobreviver como empresários locais apenas agregados destes regimes ou oligarcas ligados aos mandachuvas. O controle do Estado sobre a economia e o cotidiano das pessoas é brutal. E as vidas dos opositores correm perigo constante.
Embora negue 50 % da verdade, o tuíte de Catalice é um grande avanço, pois reconhece que não existe democracia de verdade nessas nações.
Mas, algumas horas depois da publicação, o vice-presidente do PT apagou a mensagem. E tirou o cubano Diaz-Canel (cujo nome havia grafado erradamente em sua publicação original) da lista original de ditadores. Sua justificativa: “Quanto a Cuba, reconheço a ilegitimidade do bloqueio econômico e os ataques imperialistas que sofre. Além de apoiar a renovação que ora está em andamento. Depois de refletir com companheiros resolvi recalibrar minhas postagens. Retirando Cuba das minhas reflexões domingueiras”.
A emenda, no caso, ficou pior que o soneto.
Quer dizer que, de acordo com este raciocínio, há atenuantes para regimes de exceção, como o embargo americano? É bom lembrarmos que a repressão aos cubanos e a implantação da ditadura de Fidel Castro é quase simultânea à tomada de Havana, em 1º de janeiro de 1958 – antes, portanto, que o presidente John Kennedy decretasse o primeiro bloqueio, em 19 de outubro de 1960 (que seria ampliado em 7 de fevereiro de 1962). Brandir o embargo econômico para justificar a ditadura é uma prática antiga das esquerdas. Mas ninguém explica como é que eleições livres iriam tornar a economia cubana pior do que já está. Na verdade, a volta da democracia e do livre mercado seriam a única maneira de acabar com o bloqueio, que dura há mais de 60 anos.
Ainda ontem pela manhã, Cantalice deu uma no cravo e outra na ferradura. Aliviou as críticas a Cuba, mas soltou o verbo em cima do ditador Joseph Stálin, da antiga União Soviética: “Stalin é um cancro da humanidade e destruidor de uma sociedade justa e solidária. Assassino de camaradas, doente, tinha a mania persecutória como motor de sua vida. Corrompeu o marxismo e o leninismo e ficou para a história como um coveiro da sociedade livre!”.
O resultado? Reações como: “O senhor é um servo da burguesia”; “Vassalo do império”; “Pelego”; “Cala a boca, reformista”; “O senhor está ficando senil”; “Você é um cancro, verme oportunista”; “Capacho de imperialistas”. E por aí vai.
Infelizmente, para a esquerda mais radical, a democracia parece ser um capricho burguês, assim como as liberdades individuais. Mas percebe-se que, numericamente, esses radicais representam uma parcela ínfima dentro da sociedade brasileira. O tuíte sobre Stálin, por exemplo, foi visto por 45.800 pessoas e comentado por apenas 75 internautas. Para sorte da democracia brasileira.