Teor ameno da ata do Copom e comentário de Haddad sinalizam entendimento. Mas a taxa de juros só mudará com uma reforma fiscal confiável
“Mais condizentes com as perspectivas futuras”. Foi assim que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, classificou o tom mais moderado das conclusões da ata da última reunião do Conselho de Política Econômica (Copom) sobre os juros. O documento foi divulgado nesta terça-feira (28).
Apesar da manutenção da taxa básica de juros (Selic) em 13, 75% ao ano, os conselheiros indicaram que documento afirma que se o novo arcabouço fiscal a ser divulgado pelo governo criar uma regra “sólida e crível”, causará um processo “benigno” de desinflação que, em sua esteira, permitirá a queda dos juros.
Haddad atribuiu a suavização do tom ao tempo maior de preparação do documento, que sai seis dias após a reunião. “Da mesma forma que aconteceu na reunião anterior, a ata, com mais tempo de preparação, veio com termos mais condizentes com as perspectivas futuras, de harmonização da política fiscal com a política monetária”, declarou o ministro. O tempo de preparação também atenuou o azedume entre o presidente Lula (PT) e o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto.
Em clima mais de conciliação política do que de tecnicalidades econômicas, Haddad pediu maior colaboração entre o BC e a equipe econômica na coordenação das nascentes políticas fiscal (que cuida da arrecadação e dos gastos) e monetária (que administra a taxa de juros para segurar a inflação). Segundo o titular da Fazenda, a união é necessária para que o país cresça com baixa inflação no futuro próximo.
“O Banco Central também de nos ajudar. É um organismo que tem dois braços, um ajudando o outro. Eu sempre insisto nessa tese, pois dá a impressão que um é espectador do outro. Não é assim que a política econômica tem de funcionar. São dois lados ativos, concorrendo para o mesmo propósito, o mesmo objetivo, que é garantir crescimento com baixa inflação”, declarou.
Sobre a divulgação do novo arcabouço, haverá uma reunião na quarta-feira (29) entre Haddad e ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa. O governo tem até agosto para enviar o projeto do novo marco fiscal, de acordo com a Emenda Constitucional da Transição, porém, politicamente seria muito tardio. A data política mais longínqua seria 15 de abril, quando será enviado o projeto da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2024 já com os novos parâmetros.
Segundo o Haddad, é possível que o governo divulgue as regras algumas semanas antes do envio ao Congresso. “Mas isso [o prazo até 15 de abril] não nos impede de já dizer qual vai ser a nova regra do novo arcabouço fiscal”, afirmou. Haddad revelou que o governo está fazendo um trabalho forte para combater a sonegação e está revendo algumas desonerações.
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