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Deodato: o gênio de ontem é hoje conhecido como avô de Hailey Bieber

Justin Bieber é uma das maiores estrelas da música atual. Ele é casado com Hailey, filha do ator Stephen Baldwin e da artista e designer brasileira Kennya. Os laços de Hailey com a música, porém, não se limitam ao marido. Seu avô materno é Eumir Deodato, um dos fundadores do movimento que deu origem à bossa nova. Ele, no entanto, preferiu uma carreira internacional e se mudou para os Estados Unidos ainda dos anos 1960, tocando com várias estrelas, de Frank Sinatra a Roberta Flack (o arranjo de cordas de “Killing Me Softly With His Song” é dele).

Deodato é o músico brasileiro que mais alto foi nas paradas de sucesso americanas. Com “Also Sprach Zarathustra (2001)”, ele chegou ao segundo posto da Billlboard Hot 100. Quando isso aconteceu, o primeiro lugar era de Roberta Flack, com “Killing me Softly”. Portanto, é justo dizer que ele foi direta e indiretamente responsável pelos dois lugares mais altos daquele pódio em 1973.

Para se ter uma ideia, Sérgio Mendes, com “The Look of Love”, chegou até o quarto lugar; Astrud Gilberto, com “The Girl From Ipanema”, ao quinto; e Morris Albert, com “Fellings”, ao sexto (Mendes, entretanto, chegou à lista dos mais vendidos 14 vezes, enquanto Deodato obteria essa proeza por quatro ocasiões).

Ele passaria a ser produtor musical na segunda metade dos anos 1970 em diante – e fez uma parceria bem sucedida com a banda Kool & The Gang. “Ladies Night”, um dos maiores sucessos deles, foi produzido e arranjado por Deodato. O mesmo vale para “Celebration” e “Get Down it”.

Sua obra tem influências de vários ritmos brasileiros e ele sempre transitou muito bem entre as feras do jazz. O sucesso de “Zarathustra” é uma síntese disso. Na ficha técnica, encontramos craques da música internacional, como o baterista Billy Cobham, o baixista e guitarrista Stanley Clarke e os percussionistas Airto Moreira e Ray Barreto. O mais impressionante, contudo, é o arranjo feito para o épico composto por Richard Strauss, no Século 19.

Ouça com atenção. Aos 50 segundos da gravação (26 segundos no vídeo abaixo), Deodato entra com acordes do piano elétrico Fender Rhodes – um teclado inventado nos anos 1940 que se transformaria em uma marca registrada da sonoridade produzida na primeira metade da década de 1970.

Pois bem. Quando perguntado de onde ele tinha tirado aquele arranjo, que tão bem casou com os metais de “Zarathustra”, Deodato disse que era um exercício de baião para piano que seu professor de música ensinara quando adolescente. E não é que, de fato, aquilo soa como um baião? Impressionante. Só mesmo esse gênio para fazer uma das fusões musicais mais improváveis da história.

Essa peça clássica, que foi utilizada como trilha sonora do filme “2001: Uma Odisseia no Espaço”, ficou popular graças à gravação do maestro brasileiro. E ganhou, com a versão de Deodato, uma passagem cinematográfica fabulosa: o momento em que o jardineiro autista Chance (Peter Sellers) sai pela primeira vez da casa onde morara a vida inteira, em “Muito Além do Jardim”.

O filme, baseado no livro “Being There”, de Jerzy Kozinski (traduzido por “O Videota” no Brasil), mostra uma dura realidade: a vontade de acreditar em alguém, mesmo que essa pessoa não tenha condições para exercer qualquer tipo de liderança. Trata-se de um filme excepcional, que ganha ainda mais graça em suas sutilezas com o uso da música de Eumir Deodato.  

Cena de “Muito Além do Jardim”, com a trilha “Also Sprach Zarathustra”, com Eumir Deodato

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