Por Lisandra Paraguassu
BRASÍLIA (Reuters) – O presidente Michel Temer indicou nesta segunda-feira o advogado Caio Luiz Almeida Vieira de Mello como novo ministro do Trabalho para substituir Helton Yomura, que foi afastado do cargo na semana passada por ordem do Supremo Tribunal Federal (STF) em operação da Polícia Federal contra corrupção no ministério.
Vieira de Mello é desembargador aposentado, foi vice-presidente judicial do Tribunal Regional do Trabalho da 3ª Região entre 2008 e 2009. Atualmente é consultor do escritório de Sérgio Bermudes, que tem em sua carteira de clientes empresas como Vale, Bradesco, Citibank e Ambev e as construtoras Odebrecht e Queiroz Galvão.
De acordo com o ministro da Secretaria de Governo, Carlos Marun, não houve ingerência política na indicação de Vieira de Mello.
“A indicação do novo ministro do trabalho é pessoal do presidente e não passou pela política. O presidente consultou várias pessoas e lhe foi sugerido o nome deste mineiro. O presidente viu nele as condições para essa missão”, disse Marun.
O ex-ministro, indicado pelo PTB, foi afastado do cargo na semana passada, na terceira fase da operação Registro Espúrio, em que a Justiça concedeu uma medida cautelar impedindo que o então ministro sequer voltasse ao ministério. Yomura foi acusado de envolvimento em um esquema de concessões irregulares de registros sindicais pelo ministério.
Da cota do PTB, Yomura é ligado diretamente ao presidente do partido, Roberto Jefferson, e já era secretário-executivo do MT quando o ministro era Ronaldo Nogueira. No final de dezembro, Nogueira deixou o cargo, e Jefferson tentou emplacar no cargo sua filha, a deputada Cristiane Brasil (RJ). No entanto, uma série de escândalos envolvendo a deputada, alvo de uma série de ações trabalhistas, impediu sua nomeação. Yomura acabou ficando no cargo.
Dominado há vários anos pelo PTB, o ministério é o centro das três fases da operação Registro Espúrio que, em sua segunda fase chegou a fazer buscas em endereços ligados a própria Cristiane Brasil. Na primeira fase, foram alvos os deputados petebistas Jovair Arantes (GO) e Wilson Filho (PB) e Paulinho da Força (SP), do Solidariedade.
Irritado com o Planalto, que fez questão de dizer que o problema de Yomura não era do governo, mas do partido, Jefferson disse, em nota, que o partido colocou o cargo à disposição do governo e informou que não iria indicar ou negociar novos nomes.
Na quinta-feira, diante de um ministério acéfalo -o secretário-executivo, Leonardo Arantes, havia sido preso há um mês, na segunda etapa da operação- Temer nomeou o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, como interino, acumulando os dois cargos. Padilha concordou, mas avisou o presidente que não queria ficar na posição por muito tempo.
Marun disse também que o PTB ainda participa do governo e “prestou grandes serviços”, mas que o novo ministro terá liberdade para formar sua equipe, subentendendo que Vieira de Mello não terá que deixar nos cargos os secretários, em sua maioria ligados ao PTB e ao Solidariedade.
QUEIXA
Marun também apareceu ligado ao esquema no Ministério do Trabalho, de acordo com informações publicadas por jornais brasileiros. O ministro teria sido citado como tendo feito pedidos aos secretários. A Justiça, no entanto, considerou que não havia indícios suficientes e não autorizou buscas nos endereços de Marun.
Nesta segunda-feira, o ministro apresentou uma queixa-crime e pediu abertura de inquérito pela Polícia Federal contra os vazamentos que vincularam seu nome à operação.
“Não concordo que seja impossível descobrir quem vaza. São crimes mais graves ainda se acontecem na PF, PGR ou Supremo Tribunal Federal. Espero que em breve tempo esteja elucidado”, disse o ministro. “Essa prática do acusa e enxovalha para só depois saber se processa e julga tem que deixar de existir”, acrescentou.