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A decadência da Av. Paulista é irreversível?

Nos anos 1980, o Centro de São Paulo iniciou um forte processo de decadência. Várias instituições financeiras e empresas de médio e grande porte começaram a sair de lá para endereços mais nobres. E muitas deles se decidiram pela Avenida Paulista, especialmente corretoras e distribuidoras de valores, além e bancos de investimentos e multinacionais. Um grande impulso para tornar a Paulista um local importante foi a inauguração do prédio da Fiesp, no segundo semestre de 1979. Em 1988, houve outro marco importante – o Citibank saía da avenida São João e se mudava para o número 1.111 da mais importante via de São Paulo.

Em 2023, no entanto, pode-se dizer que os tempos de glamour e de opulência foram embora. Um estudo feito pelo jornal O Estado de S. Paulo, com base em dados da Secretaria de Segurança Pública, mostra que essa região teve em 2022 o maior número de roubos em dez anos. Foram, ao todo, 1.106 registros (ou seja, o número real seguramente é maior), o que significa 3 ocorrências diárias. O número de furtos, por sua vez, foi e segundo maior da década, perdendo apenas para os ocorridos em 2019 (6.343 contra 7.500). Vamos lembrar que roubo é uma ação que ocorre com a ameaça de violência, enquanto furto é a subtração de patrimônio sem possibilidade de agressão.

Fui testemunha involuntária de um furto no ano passado. Conversava pelo telefone com um amigo e, de repente, ouvi sua voz, um pouco longe, gritando “pega ladrão”. Depois de alguns segundos de silêncio na linha, ele voltou, contando que um rapaz havia passado de bicicleta e levado seu telefone. Quase que imediatamente, porém, ele acabou interceptado por transeuntes, que lhe devolveram o celular. Logo depois, veio um policial e disse que esses episódios eram frequentes naquela quadra.

Cerca de 45 % dos casos em que se assaltam celulares, correntes ou carteiras ocorrem em torno do MASP. Mas a violência não se dá apenas durante os dias de semana. O domingo, quando a via é aberta a pedestres, acumula 34,7 % dos registros.

Desde os anos 2000, as empresas começaram a abandonar a avenida Paulista, atraídas pela expansão imobiliária que surgia na continuação da Avenida Faria Lima. Aliás, a concentração de bancos, corretoras e gestores de recursos neste local é que motivou a criação da expressão “a Faria Lima”, quando nos referimos aos representantes do mercado financeiro.

A saída das empresas é que motivou a decadência da Paulista ou a decadência da Paulista é que motivou a saída das empresas?

Nessa questão que nos remete à pergunta sobre o ovo ou a galinha, uma coisa é certa: um fenômeno impulsionou o outro, em um processo de retroalimentação que acabou por trazer violência a um local que parecia ser um oásis, apensar da intensa movimentação.

Quando foi idealizada pelo engenheiro uruguaio Joaquim Eugênio de Lima (que batiza uma de suas alamedas transversais), a Paulista era conhecida como uma passagem chamada Real Grandeza, que cortava o Morro do Caaguaçu (na linguagem dos índios que habitavam o local, isso queria dizer “mata espessa”). Eugênio de Lima mandou aterrar os desníveis da Real Grandeza, onde estão hoje a rua Pamplona e a alameda Ministro da Rocha Azevedo e ampliou sua largura. A Paulista foi a primeira via da cidade a ser asfaltada e arborizada, com plátanos importados da Europa.

Devidamente repaginada, os lotes colocados à venda pelo português Manuel Antônio Vieira, dono daquela gleba de terras, foram arrematados pela elite paulistana, que vivia em Campos Elíseos e em Higienópolis. Rapidamente foram erguidas mansões no local (veja a imagem de 1902), que deram lugar a prédios imponentes a partir dos anos 1950, quando o Conjunto Nacional foi construído.

O empresário argentino José Tjurs comprou a mansão de Horácio Sabino e iniciou suas obras em 1952, inaugurando a primeira parte do conjunto em 1958 (somente a ala residencial). Nos anos 1960, o local abrigou um empreendimento da família Fasano, que tinha um salão interno e mesas na calçada.

Esses tempos voltarão? Dificilmente. Mas é possível refrear a decadência total da Paulista. Basta iniciar pela repressão à violência, pelo menos triplicando o policiamento na avenida – especialmente aos domingos. Os números não mentem: há concentração de assaltos e furtos na região do Masp e aos domingos. Comecemos, portanto, por aí. Depois, vamos cobrindo o restante da avenida.

Nos últimos dias, o relógio que fica no alto do Conjunto Nacional foi desligado. Trata-se de mais uma evidência de que a avenida mais movimentada de São Paulo está mesmo em decadência. Não podemos trazer de volta aqueles que abandonaram os prédios deste endereço. Mas podemos combater a violência, até porque é sabido que tanto o município como o estado têm dinheiro em caixa e podem bancar projetos pontuais como este.

É possível, assim, poupar este ícone paulistano da decadência. Mas, se as autoridades não fizerem nada agora, o processo de derrocada será irreversível, como ocorreu com o Centro de São Paulo, que mais parecia uma capital europeia no início do Século 20 e hoje está ao Deus-dará.

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Comentários

Uma resposta

  1. O instituto techmail (ITM ) levou 30 jovens de seu programa de capacitação para o emprego no último mês para fazer um passeio e conhecer a Av Paulista. O resultado foi um Sarau Cultural sobre essa importante avenida de São Paulo. Um vídeo com depoimentos estão à disposição no nosso YouTube
    http://www.institutotechmail.org.br

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