Voltei ao Brasil depois de uma semana a trabalho em Nova York. Ao chegar em casa, fui logo ler os jornais brazucas para começar a me inteirar sobre o que se passa em nosso país (a agenda nova-iorquina foi muito agitada, com um evento praticamente colado no próximo). Três chamadas de primeira página logo me chamam a atenção. Na Folha de S. Paulo, temos: “Moraes quer investigar Google e Telegram”. No Estado de S. Paulo, mais uma: “Dívida, ’gatos’ em excesso e crise levam a Light a pedir recuperação”. Por fim, temos outra, desta vez do Globo: “Ninguém foi atrás, precisei levar tudo pronto, com provas” (esta é sobre o escândalo da manipulação dos jogos de futebol por apostadores que atuam em aplicativos).
Confesso que demoro a me acostumar com o teor dessas manchetes. Afinal, esses três tópicos dificilmente estariam estampando reportagens na imprensa americana – especialmente porque são situações que dificilmente veremos na Terra do Tio Sam. Não considero isso ruim ou lamentável. Temos que entender nossa realidade e conviver com as adversidades locais. Mas isso não significa que precisamos aceitar de bom grado certas idiossincrasias e características únicas que experimentamos por aqui. É nosso dever reclamar e encontrar aqueles que concordam conosco para amplificarmos a nossa voz.
Tome-se como exemplo a chamada da Folha sobre as intenções de Alexandre de Moraes. Nos Estados Unidos ou mesmo na Europa dificilmente um juiz de Alta Corte se meteria em assuntos privados – ou em atitudes de empresas que desejam manifestar suas opiniões em público.
Como todos sabem, durante a semana em que a chamada PL das Fake News iria ser votada, o Google jogou em sua plataforma de buscas alguns artigos com críticas ao projeto. A Justiça determinou que os textos sofressem restrições e, agora, o ministro Moraes instaurou um inquérito para apurar o papel dos diretores das empresas que gerenciam redes sociais (em especial o Google e Telegram) naquilo que ele chama de “campanha abusiva” contra a proposta que tramitava naquela Casa.
É lamentável que um ministro do Supremo tome uma decisão para constranger e reprimir executivos que estão defendendo as empresas que representam. Mas, pelo jeito, quem discordar de Moares em público vai sofrer consequências por conta da desfeita.
Já a manchete do Estadão deixaria qualquer gringo de cabelo em pé por conta de um detalhe: ‘gatos em excesso’. Aparentemente, em nossa mentalidade tupiniquim, há um limite razoável para as ligações clandestinas de energia – algo que nem pode ser levado em conta em solo americano.
Nunca fui fã de monopólios, públicos ou privados. E esse monopólio da energia carioca ficou absolutamente incontrolável. São R$ 11 bilhões em dívidas e uma quantidade inacreditável de energia furtada. Em março, por exemplo, 58% de toda a energia comprada pela empresa para atender ao mercado doméstico de baixa tensão eram destinados a ligações clandestinas, os chamados “gatos”.
Ou seja, a Light compra toda a energia necessária ao funcionamento do Rio de Janeiro, a distribui a todos os habitantes e recebe apenas de 42 % de seus clientes. Isso aconteceria no Primeiro Mundo? Dificilmente.
Por fim, temos no Globo uma entrevista com Hugo Jorge Bravo, presidente do Vila Nova, time de Goiás. Ele foi o autor da denúncia que desbaratou a quadrilha que fraudava resultados no futebol brasileiro para ganhar dinheiro em sites de apostas. Bravo afirma que tentou desbaratar o esquema já em 2019, mas ninguém quis ouvi-lo. Percebeu, então que teria de reunir provas para que que houvesse investigação por parte das autoridades.
Pergunta-se: esse descaso é aceitável? Não.
O Brasil não pode mais tolerar esse tipo de coisa, desde o Judiciário se metendo onde não deve até termos quase 60 % de ligações elétricas como fraudadas, passando por denúncias gravíssimas que não são levadas a sério. Eu sou um dos primeiros a reclamar daqueles que falam mal do Brasil. Apesar disso, reconheço que só há uma solução para o país: retirar as ervas daninhas que insistem em contaminar nosso cenário político e nosso ambiente de negócios. Sem tomarmos essa providência, jamais teremos previsibilidade na economia e credibilidade entre investidores. Precisamos acabar com isso e buscar um alinhamento com a normalidade. Urgentemente.
Respostas de 2
Estamos num emaranhado de noticias e coisas ruins acontecendo que nem percebemos a gravidade do que estamos vivenciando!
Das 3 manchetes, a primeira sobre o judiciário é a que mais amedronta! Os atos de Alexandre de Moraes transbordam excessos de poder e ofensas à Contituição, ele vem há mto tempo em nome da “defesa da democracia”, provocando a redução das liberdades públicas e direitos individuais!
Concordo de forma veemente, caro Aluízio. É inaceitável!! Estou cansado das “mutretas”, negociatas, gatos, fraudes, golpes, contravenções, armações, “acordos espúrios de toda espécie, neste país. São tantas as ervas daninhas, que seria necessário um exército de jardineiros fortemente preparados!! E devidamente doutrinados. É bem verdade que, muitas dessas mazelas acontecem no mundo inteiro!! Mas num nível muuuito menor. Aqui, está insuportável!!!