Pesquisar
PATROCINADORES
PATROCINADORES

Sobre o racismo da torcida espanhola

Vinicius Júnior, mais uma vez, foi alvo de manifestações execráveis de racismo durante uma partida pelo campeonato espanhol. O atacante do Real Madrid foi insistentemente chamado de “macaco” pela torcida adversária e ficou, com toda razão, revoltado. Não é a primeira vez que isso ocorre nos campos espanhóis. Outros jogadores, brasileiros ou não, também foram vítimas de torcedores preconceituosos e de mente tacanha.

O esporte – em especial, o futebol – sempre foi palco de igualdade entre os homens. Dentro das quatro linhas, o que é importa é a equação que envolve talento individual, a união de uma equipe e sua tática. Nas partidas, a cor da pele, a religião ou o status social nada valem. A única coisa que vale, ao final de 90 minutos, é colocar a bola na rede adversária.

A torcida, neste contexto, tem um papel importantíssimo. Ela pode motivar uma equipe cabisbaixa e levá-la à vitória. Mas também pode mexer com a cabeça dos adversários, com ofensas e apupos. Vini Jr. é um dos melhores jogadores do mundo e causa terror nos times que enfrentam o Real Madrid. Infelizmente, a torcida do Valencia encontrou uma forma de desestabilizá-lo emocionalmente e não render aquilo que deveria.

Muitos podem achar que a reação do brasileiro é exagerada – mas não é. Estamos em pleno Século 21, uma era na qual o racismo deve ser enterrado e condenado. Aqueles que diminuem o sentimento de revolta dos atingidos por esta prática hedionda, chamando essa reação de “coitadismo”, precisam de um banho de empatia. Diminuir a importância dessa indignação é algo que pode perpetuar os preconceitos e sentimentos vis.

Existem aqueles que relativizam o uso de expressões racistas, lembrando de um tempo, da década de 1990 para trás, quando era comum utilizar o termo empregado para desestabilizar Vinicius Júnior. Ou chamar pretos e mulatos de expressões que hoje são criticadas pela sociedade. É algo que tolhe o discurso dos outros? Sim. Mas é um sacrifício tão grande deixar de falar certas palavras para preservar o sentimento de determinados seres humanos? Acredito que não.

Outro dia, entrei em uma discussão na qual meu interlocutor dizia que o critério do IBGE, de somar pretos e mestiços dentro da categoria “negros”, era uma narrativa da esquerda. Ponderei que esse era um método técnico, adotado pela autoridade estatal em estatística. Ele me perguntou, então, por que os mestiços não poderiam ser alinhados com a população branca. Respondi que um mestiço jamais seria considerado branco em uma convenção da Ku Klux Klan – e que essa situação hipotética responderia à pergunta.

Temos a tendência de minimizar aquilo que não é familiar em nossa memória sensorial. Assim, se nunca passamos por uma situação na qual fomos alvo de preconceito, será muito difícil entender o que sente alguém que é tratado com racismo. Portanto, precisamos nos colocar nos sapatos de quem sofre discriminações e ajudar a combatê-las.

Na outra ponta, existem aqueles que nunca sofreram a asquerosa agressão do preconceito e se sentem culpados por isso. Não deveriam. O racismo deve ser combatido com veemência e frieza, pois vai desarmar os preconceituosos, que sempre apostam em tumultuar qualquer discussão sobre o assunto, com argumentos totalmente irracionais. Ao desmascarar o preconceito através da razão (algo dificílimo para quem é vítima dele), deixa-se o adversário sem capacidade de reagir.

Curiosamente, esses torcedores espanhóis que entoam cânticos racistas nos campos de seu país, não são considerados brancos nos Estados Unidos – e sim latinos. E, entre os racistas americanos, aqueles que acreditam em uma imbecilidade chamada “supremacia branca”, os latinos são tão execrados como os negros.

Quando penso em uma boa punição para esses idiotas (que seguramente não representam a maioria da torcida espanhola), imagino em mandá-los viver por algum tempo em alguma comunidade racista americana. Com certeza, eles iriam provar do próprio veneno e, quem sabe, criariam um pouco de empatia em suas almas nefastas.

Compartilhe

Comentários

Uma resposta

  1. Caro Aluisio, admiro muito seus artigos, os quais leio diariamente. Mas gostaria de aproveitar esse espaço e para opinar sobre a abjeta manifestação racista contra Vini Jr. Concordo em letra e forma com o que você condena nesses racistas espanhóis – que nem ‘arianos’ são, de acordo com a classificação nazista – , porém concordo também com o seu amigo quanto ao erro do critério do IBGE de classificar pardos como negros. Já que existe esta distinção de pele – a meu ver, no mínimo sem sentido, por que colocar descendentes de índios mestiçados na maioria com brancos europeus como afrodescendentes, já que a cor de pele “preta” só se aplica a quem tem origem africana? O Brasil, assim como a maioria dos países latina americanos, tem população em sua maioria mestiça de índios e brancos. Por que essa categoria não é “técnica” nas planilhas do IBGE? Outra coisa, que me faz concordar com seu amigo sobre falácias da esquerda: há muito tempo se diz que a população negra brasileira só e menor que a da Nigéria e isso tem sustentado discursos pseudo igualitários sem nunca citar que pelo menos 40% por cento dos brasileiros são de origem europeia. Isso coloca o Brasil como o terceiro país no mundo com mais ‘caucasianos’, atrás apenas dos EUA e Rússia. Isso não é manipulação política? Termino reiterando que para mim é racismo é ridículo.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Pergunte para a

Mônica.

[monica]
Pesquisar

©2017-2020 Money Report. Todos os direitos reservados. Money Report preza a qualidade da informação e atesta a apuração de todo o conteúdo produzido por sua equipe.