Uma reportagem recente do jornal O Globo mostra que o Partido Liberal não cresceu após a filiação do então presidente Jair Bolsonaro, em novembro de 2021. O presidente da sigla, Valdemar Costa Neto, esperava na época que o número de filiados crescesse pelo menos de 761 000 para 1 milhão em alguns meses. Hoje, no entanto, vê-se que a agremiação não se expandiu como desejado – e, pelo contrário, até perdeu alguns membros (351, para ser exato). No mesmo período, todos os partidos (direita, centro e de esquerda) ficaram no mesmo patamar, como o PL. A conclusão mais rápida que se tira deste cenário é a de que Bolsonaro não teve a capacidade de inflar as bases de seu partido.
Mas talvez a questão seja um pouco mais delicada. Durante a campanha de 2022, o ex-presidente deu prioridade a seus seguidores mais fiéis e foi se distanciando dos eleitores de centro. Isso restringiu sua capacidade atrair mais filiados. Mas, recentemente, três fatores estremeceram a relação entre Bolsonaro e o eleitorado: a viagem para Orlando, o escândalo das joias e a prisão de seu ajudante-de-ordens, o tenente-coronel Mauro Cid, acusado de falsificar certificados de vacina e de pilotar um caixa dois para pagar despesas da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro.
Hoje, o ex-presidente ainda é o maior expoente da direita brasileira. Porém, ele não conseguiu trazer mais filiados para seu partido. Diante desse impasse, é o caso de se perguntar: quem conseguirá engrossar os quadros da direita brasileira?
Em primeiro lugar, é preciso entender que muitos seguidores de Bolsonaro estão posicionados na extrema-direita no espectro ideológico no país. São pessoas que prezam a ditadura militar ocorrida no Brasil e, ao mesmo tempo, pregam a ruptura institucional dos poderes constituídos. Este é um perfil de militante que não acredita em partidos políticos – ou na democracia. Portanto, não seriam esse tipo de bolsonarista raiz que iria inflar os quadros do PL.
Por outro lado, os apoiadores não extremistas de Bolsonaro estão cautelosos desde o final de 2022 – e querem esperar um pouco mais para apoiar qualquer iniciativa do ex-presidente na vida política. Por isso, nem cogitaram se filiar à agremiação do ex-presidente.
No fundo, o número de filiados de um partido pouco importa na hora H, aquela em que o eleitor aperta “confirma” na urna eletrônica. Quando Fernando Collor, Fernando Henrique Cardoso e até Jair Bolsonaro foram eleitos, seus partidos não eram grandes. A maior agremiação política do Brasil, o MDB, nunca teve um presidente eleito pelo voto (uma ironia, aliás: foi o único partido de oposição à ditadura, mas emplacou apenas a chapa Tancredo Neves/José Sarney pelo voto indireto).
Diante das agruras vividas por Bolsonaro – e tudo indica que haverá mais denúncias contra ele nas próximas semanas –, quem é que vai liderar a oposição e arregimentar a direita no Brasil? O Republicanos é um postulante forte a assumir essa bandeira: já está trabalhando para ampliar sua fatia de mercado e anunciando no rádio que é “o verdadeiro partido conservador do Brasil”.
Curiosamente, esta é a sigla do governador Tarcísio de Freitas (assediado por outros partidos, por sinal). E Tarcísio é um líder em potencial para a direita. Entretanto, ele já avisou seguidas vezes que prefere tentar a reeleição do que buscar a presidência da República. Mesmo que fique no Palácio dos Bandeirantes, contudo, será um forte cabo eleitoral, com condições de unir o conservadorismo em torno de uma candidatura de direita (desde que não seja radical).
Além de Tarcísio, os nomes de Romeu Zema e de Ratinho Jr. despontam no cenário e podem se viabilizar em 2026. Mas, para ganhar o próximo pleito presidencial, os candidatos conservadores terão de costurar uma sólida frente de apoios– e arregimentar os eleitores que ficaram desanimados com a posse de Luiz Inácio Lula da Silva, para apoiar um projeto político de oposição.
Um dos primeiros passos é estimular o crescimento dos partidos de direita. Mas isso não basta. Os conservadores terão de se unir em torno de um só nome se quiserem a vitória. E esse candidato não pode ter rompantes de radicalismos, sob pena de ver, como em 2022, a vitória se esvair por uma margem ínfima de votos.
Uma resposta
Creio que o maior problema da direita é justamente a falta de alinhamento e concordância, na direita.
Quase que hilário se não fosse terrível, o Brasil tem na direita algo que mais se parece com o eleitor de esquerda, onde todos querem ditar sem se importar com a opinião alheia.
Mas de novo, posso estar completamente enganado porque me preocupa a nação e futuro do povo, antes de qualquer coisa.