Quando era garoto, a televisão era pródiga em seriados passados no coração da África: Tarzan, Jim das Selvas e Daktari eram algumas dessas séries. Além disso, a Sessão da Tarde passava vários filmes com temática parecida. Em quase todos, havia uma cena em que os mocinhos caiam em areia movediça e passavam por um perrengue enorme para sair de lá. Os vilões, invariavelmente, não tinham a mesma sorte – e eram tragados para o fundo, afogados em lama.
Sempre fiquei apavorado com essas cenas e morria de medo de ficar preso em um desses poços de areia movediça (em inglês, o termo é “quicksand” – areia rápida). Esse pavor me acompanhou por muito tempo e, confesso, surgiu em minha cabeça quando fiz um inocente safari fotográfico na África do Sul, anos atrás.
Somente há pouco tempo, porém, descobri que a tal areia movediça não é fatal – e existe em vários países, não apenas em solo africano. Aqui no Brasil existem focos no Nordeste, por exemplo. Mas, apesar do incômodo, é possível se soltar sozinho.
Esse temor foi reavivado, em minha idade adulta, pela série de filmes Indiana Jones, que usa o recurso da areia movediça em dois episódios. Para mim, morrer afogado na lama é um verdadeiro pesadelo e me causa verdadeiros arrepios. Mas, felizmente, descobri que esses locais engolem o corpo humano até o joelho e o processo de sucção para por aí.
Confesso que fiquei aliviado quando descobri a verdade. Mas, por via das dúvidas, penso duas vezes antes de pisar em um lamaçal.
Essa, no entanto, não foi a única lenda urbana a me incomodar na tenra idade. Durante um bom tempo, com onze anos de idade, tive dificuldades de entrar sozinho em um banheiro da escola. A razão? A famosa loira do banheiro.
Segundo essa lenda, a loira aparece nos toilettes escolares e ataca os alunos. Uma história que começou no Século 19, em Guaratinguetá. Tudo começou quando uma moça de 14 anos, chamada Maria Augusta, foi obrigada a casar com um homem de 35 anos, o Conselheiro Dutra Rodrigues, contra a sua vontade. Ela, já casada, vendeu suas joias e fugiu para Paris. Lá, morreu e seu corpo foi trazido de volta para o Brasil.
O cadáver ficou em uma redoma de vidro na mansão onde seus pais ainda moravam, até que o jazigo da família fosse reformado. Depois de alguns anos, o casarão virou uma escola e pegou fogo. Durante a reforma, os pedreiros relataram aparições de uma moça loira, vestida de branco e com algodão nos orifícios nasais – além de ouvir o som de um piano (instrumento que Maria Augusta tocava) ao final das tardes. Quando a escola foi reaberta, começou a fofoca: havia uma loira fantasma no banheiro daquele estabelecimento. Daí, o enredo foi adaptado e passou a valer para todas as escolas.
E o homem do saco? Essa daí me foi contada pela minha avó. Incomodada com minha mania de sair da casa dela e brincar na calçada em frente, ela me contou a lenda do homem que vinha com um saco gigantesco, no qual escondia as crianças e as roubava. Fiquei morrendo de medo, até que minha mãe disse que aquilo era uma mentira que os velhos contavam para sossegar o facho da garotada. Mesmo assim, quando enxergava algum mendigo carregando um saco nas costas, eu saía correndo e não olhava para trás.
E você? Que lenda urbana mexeu com sua cabeça quando era criança?