Após bater pé sobre a exploração petrolífera na foz do Amazonas e receber duras críticas, presidente se aquietou deixando a Petrobras buscar soluções mais fáceis
Houve uma pacificação interna no governo que pouca gente percebeu. E foi para ser assim mesmo, evitando mostrar qualquer tipo de fragilidade de propósito da parte do presidente Lula. Foi tão bom que não se falou mais em prospectar petróleo na foz do Amazonas. Em vez disso, a Petrobras vai furar atrás de gás e óleo em outros lugares menos arriscados, a custo menor e com maior certeza de lucratividade.
Os brasileiros deixaram de atuar na África em 2020, após venderem ativos na Nigéria. Agora a empresa ensaia um retorno. A estatal atuou também em Angola e Namíbia. Investir em exploração offshore na região apresentaria a mesma dificuldade técnica que no Brasil, já que a geologia é praticamente idêntica. E não haveria aparentes incômodos ambientais.
No Brasil, o campo Pitu está localizado a 60 quilômetros da costa potiguar. A jazida foi descoberta em 2013 e teve seu potencial confirmado em 2015. Fica no extremo oposto da Margem Equatorial onde está o poço exploratório do bloco FZ-M-059, ao largo do Amapá. A Margem Equatorial é uma área de 2,2 mil quilômetros de extensão, indo até a Guiana Francesa. Nesse trecho estão concentrados 49% dos investimentos da estatal petroleira. Serão US$ 2,9 bilhões para perfurar 15 poços em 2023. O décimo-sexto não deve rolar.
Afrouxar os controles ambientais seria um erro que teria tudo para custar caro demais. A exploração na costa do Amapá ficou para escanteio até nos governos Temer e Bolsonaro. O local é desafiante. Correntes intensas, águas turvas, marés de até 7 metros em algumas épocas e farta vida marinha, incluindo o Grande Recife de Coral Amazônico, uma formação de mil quilômetros só foi descrita em 2016. Um vazamento seria um desastre ecológico capaz de rivalizar com o acidente da plataforma de Deepwater Horizon, em 2010, o maior da história.
Para conter um derramamento, os barcos demorariam 40 horas para chegar. O poço 59 fica a 40 quilômetros do recife, a 160 quilômetros em linha reta da terra firme e 500 quilômetros da foz do Amazonas. Seria a exploração na lâmina d’água mais profunda do Brasil, com 2.880 metros. Hoje, a maior é o poço Monai, com 2.366 metros.
Lula aparentemente recuou sem alarde. Em um momento em que o país tenta se apresentar ao mundo como esteio da preservação e proponente de uma economia sustentável e verde para atrair investimentos, melhor não flertar com o azar.
O que MONEY REPORT publicou