Hoje é, evidentemente, sexta-feira. Mas, ao contrário das demais sextas, não há uma enxurrada de posts nas redes sociais com a palavra “sextou”. Isso ocorre porque estamos no meio de um feriado e a semana útil acabou na quarta-feira. Mas, normalmente, a véspera do fim de semana é saudada como se fosse uma bênção. Confesso que, nos últimos tempos, tenho cultivado uma birra com essa tradição (que também existe há décadas nos Estados Unidos, onde se usa a expressão “TGIT”, que quer dizer “Thanks God it’s Friday” – “Graças a Deus, é sexta-feira”).
Não me levem a mal. Adoro o final de semana e tudo de bom que está dentro dele. O ócio, inclusive, pode levar muita gente a uma onda criativa que normalmente não ocorre no meio de uma jornada de trabalho. Além disso, todos precisam recarregar as baterias para produzir melhor. Sem uma pausa – e divertimento – a vida fica chata e improdutiva. Por isso, amo encontrar os amigos, dar risada, trocar ideias sobre os meus assuntos favoritos e, por que não?, fumar meus charutos enquanto meus pensamentos devaneiam por temas aleatórios.
O que me irrita com essa obsessão em falar “sextou” é a ideia implícita de que a felicidade está apenas nos momentos de lazer. Mas, para mim e para muita gente, é possível ser muito feliz de segunda a quinta.
Para os empreendedores, os pensamentos ligados ao trabalho não dão muita folga. A constante preocupação com o negócio faz o empreendedor uma espécie de servo de seu CNPJ, de forma que o cérebro parece nunca desligar. Isso, porém, não impede o descanso e a oxigenação de insights sobre o trabalho e a vida em particular.
Quando era jovem, meu pai resolveu se aventurar pelo empreendedorismo e montou uma empresa chamada “Ideia Livre”. Nos finais de semana, quando ia visitá-lo, ele falava sem parar de sua empreitada, das dificuldades e dos sucessos. Chegava a ficar nesse assunto por horas a fio. Um dia, eu disse que ele deveria mudar o nome da empresa para “Ideia Fixa”, pois não falava de outro assunto.
Hoje, que vivo o cotidiano de minha empresa “non-stop”, entendo tardiamente a atitude do meu pai. Mas me vigio para não tornar meu trabalho o único tema de conversas na minha casa – especialmente porque minha esposa é minha sócia e, diariamente, despachamos algumas questões referentes aos nossos negócios na mesa do café da manhã.
Mas também existem os executivos que têm paixão pela labuta, como se tivesse o empreendedorismo gravado na alma. São pessoas que desejam construir um legado dentro das companhias em que trabalham e sentem enorme prazer durante os dias úteis.
Do mesmo jeito que tenho birra daqueles que celebram exageradamente a chegada da sexta-feira, também cultivo uma certa pirraça em relação aos workaholics. Aqueles que são felizes apenas no trabalho também precisam repensar a própria vida – são uma espécie de exagero oposto ao dos idólatras do final de semana.
A vida talvez deva ser vivida na constante tentativa de equilibrar seus ingredientes, buscando evitar o exagero. Essa é uma lição que ouvimos desde crianças: moderação e equilíbrio são as melhores receitas para viver. No entanto, em vários momentos de nossa jornada, nos afastamos daquilo que é óbvio e nos jogamos nos extremos, mesmo sabendo, lá no fundo de nossas mentes, que essa atitude nos vai fazer mal.
Se alguém só se sente feliz nos finais de semana, é sinal de que o seu trabalho – seja essa pessoa empresário ou funcionário – faz mal à alma. E isso gera um tipo de infelicidade que, com o tempo, nem as alegrias efêmeras do final de semana podem curar. Quando isso acontece, a melhor coisa a fazer é procurar um só remédio: a mudança.