Detalhes do plano foram revelados pela revista Veja
Um relatório da Polícia Federal (PF) revelou um plano para anular as eleições e estabelecer uma intervenção militar. As evidências vieram de arquivos de mensagens encontrados no celular do tente-coronel Mauro Cid, que foi ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL) na presidência. Os detalhes desse plano foram revelados em uma reportagem de capa publicada pela revista Veja na edição desta semana.
Após a derrota eleitoral de Bolsonaro, o ex-presidente se isolou, o que alimentou suspeitas de fraude entre seus seguidores. No entanto, o relatório da PF indica que o círculo próximo a Bolsonaro foi além e tentou organizar um golpe com o objetivo de mantê-lo no poder. O andamento de parte desta trama foi encontrada no celular de Mauro Cid, que foi detido em 3 de maio.
O documento intitulado “Forças Armadas como poder moderador”, ao qual a Veja teve acesso, baseia-se em uma tese jurídica furada que defende a convocação dos militares para arbitrar conflitos entre os poderes repúblicanos. Os apoiadores de Bolsonaro queriam justificar sua derrota sob o argumento de que decisões inconstitucionais do Supremo Tribunal Federal (STF) e a oposição mídia adulteraram as eleições.
A revelação complica ainda mais a vida do ex-presidente Bolsonaro, colocando no centro da trama um auxiliar próximo que não teria influência ou capacidade de articular uma ação nesta escala. O tenente-coronel também é protagonista da farsa que envolveu o falsificação do certificado de vacinação do ex-presidente e de sua filha menor de idade.
O golpe em questão envolveria Jair Bolsonaro informando ao Comando Militar sobre as supostas inconstitucionalidades ocorridas. Se os generais concordasse, um interventor seria nomeado com poderes absolutos para restaurar a “ordem constitucional” – algo que inexiste no ordenamento jurídico brasileiro. Ou seja, golpe. Isso incluiria a suspensão de decisões, a diplomação de Lula, afastaria ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Em tese, tudo seria seguido da convocação de uma nova eleição presidencial desenhada para recolocar Bolsonaro no poder sob um pano de legitimidade.
Esse conspiração resultou em um relatório de 66 páginas elaborado pela Diretoria de Inteligência da PF. O material incluiu mensagens de WhatsApp, áudios e backups de segurança. O material apreendido com Mauro Cid apresenta estratégias para atingir os magistrados do STF e do TSE. Entre as opções consideradas estava até mesmo a decretação de estado de sítio, uma medida extrema prevista na Constituição para situações de excepcionalidade.
No documento, o ministro Alexandre de Moraes é considerado adversário do bolsonarismo e mencionado como um dos motivos para o estado de sítio. Presidente do TSE, sua oposição ao ex-presidente é justificada pela sua relação com o vice-presidente eleito Geraldo Alckmin, desconsiderando oportunamente que o magistrado foi indicado pelo ex-presidente Michel Temer, que em alguns momentos aconselhou Bolsonaro.
Cid também era membro de um grupo de WhatsApp com militares da ativa na qual eram trocadas mensagens apoiando o golpe e atacando Moraes. Há também conversas entre o coronel Jean Lawand Junior e Mauro Cid pressionando para que Bolsonaro desse a ordem para a intervenção. Cid responde de forma vaga, insinuando que Bolsonaro não confiaria na cúpula militar.
A pressão aumentou com a aproximação do fim do mandato. Lawand argumentava que o Exército Brasileiro (EB) seguiria a ordem do presidente, mas não agiria por conta própria para evitar a aparência de um golpe.
A última conversa registrada entre Cid e Lawand se deu em 21 de dezembro, quando o coronel expressou decepção por não ter ocorrido o golpe e afirmando que o país foi entregue aos criminosos. Bolsonaro, em entrevista, confirmou que havia quem defendesse a não observância de algumas decisões judiciais, mas negou ter levado essas sugestões a sério. Mauro Cid, preso há mais de um mês, era um dos que desejavam atuar fora das normas estabelecidas.
O que MONEY REPORT publicou: