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A barbárie chegou: os xingamentos deram lugar à agressão física

Sempre se especulou qual seria o caminho a ser enveredado por aqueles que passavam o tempo curtindo o ódio em redes sociais, xingando os adversários políticos no mundo digital. Muitos achavam que esses tresloucados apenas levariam os apupos eletrônicos para a vida real – e vimos vários destes episódios registrados por telefones celulares em ambientes públicos. Rivais na política xingavam nêmesis e constrangiam pessoas que estavam passeando, almoçando ou esperando um avião.

Ontem, porém, ocorreu o que muita gente temia: saímos dos xingamentos para a agressão física. Ontem, enquanto o ministro Alexandre de Moraes andava pelo aeroporto de Roma, acompanhado de seu filho, foi abordado por um trio de detratores, que o xingou de “bandido, comunista e comprado”. Os insultos logo deram lugar ao pugilato e o filho de Moraes foi a principal vítima de socos e pontapés.

Pode-se discordar da atuação do magistrado em diversos processos. Pode-se até dizer que ele não é exatamente um juiz muito parcial ao analisar determinados processos. Pode-se também achar que ele é severo demais com determinados personagens da política brasileira e leniente com outros. Mas daí a partir para a agressão é outra coisa. Trata-se de algo condenável e reservado a animais de espírito.

O uso de força física é empregado geralmente pelos fracos de cabeça. Por aqueles que não conseguem ganhar no teor implacável das palavras. Frustrados, acham que o tom de voz alto vai resolver a parada. E, quando a gritaria não resolve, esses seres desprezíveis partem para o tapa – um comportamento que mostra o cérebro diminuto e a selvageria de espírito.

Os três agressores – uma mulher e dois homens – serão processados no Brasil. Serão apupados por muita gente, mas certamente serão endeusados por quem já quis fazer a mesmíssima coisa com Alexandre de Moraes. Esse comportamento, no entanto, pode ser perigosíssimo. Aqueles que vão elogiar os agressores podem replicar a mesma atitude e gerar outros momentos de pancadaria gratuita.

É uma pena. Estamos perdendo, a olhos vistos, a capacidade de sermos civilizados. Há alguns anos, abrimos a porta da agressividade entre os extremos políticos. Deixamos também rivais no campo dos costumes entrar pela mesma seara, trocando insultos pelas redes digitais. Para a coisa descambar e termos socos de verdade entre nós era uma questão de tempo.

Pobre é o país que tem pessoas que tentam resolver as diferenças na base do muque. Dentro dessa escalada de descontrole, o que vem a seguir? O uso de armas? Lembremos que, em 2018, o então candidato à presidência, Jair Bolsonaro, foi vítima de uma facada. O que pode acontecer daqui para frente? As pessoas vão resolver suas diferenças com tiros.

“A violência é o último refúgio dos incompetentes”, dizia o escritor Isaac Asimov. Os sopapos geralmente surgem quando a mente perde uma batalha contra o próprio dono ou contra terceiros. Isso mostra que o trio de agressores em Roma perderam as estribeiras porque são pessoas estúpidas e incapazes de controlar seus instintos de fúria.

Mas também esse episódio mostra o que o ódio acumulado por alguém pode moldar atitudes infelizes. Agredir um magistrado já seria algo ruim. Bater em seu filho, que não tem nenhuma responsabilidade pelos atos do pai, não tem desculpas. É simplesmente um ato atribuído a quem merece apenas o desprezo da humanidade.

Já ouvi pessoas argumentando que o jovem Moraes foi quem partiu primeiro para a agressão, em resposta aos xingamentos. Ora, o que um senhor de 71 anos – um dos três celerados do aeroporto de Fuimicino – deveria ter feito (se é que isso aconteceu mesmo)? Tentar agredir um jovem ou botar panos quentes na discussão? Uma pessoa com mais de sete décadas de vida tem a obrigação de buscar a paz, nunca a guerra.

O Brasil, se continuar assim, terá sérias dificuldades para encontrar um caminho de entendimento para poder buscar se desenvolver. Aqueles que pregam a paz e o entendimento precisam se unir para tentar coibir, com tranquilidade e firmeza, essas manifestações físicas de raiva. O Brasil não pode ficar refém dos rancorosos – não importa qual é o seu matiz político. Essa é a hora da verdade: o ódio precisa ficar para trás. Não se constrói um país desse jeito.

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