Parlamentares contestaram ex-ministro da Justiça, que disse desconhecer quem lhe entregou o rascunho do golpe
Com uma tornozeleira eletrônica em sua canela esquerda desde maio, após quatro meses detido, o ex-ministro da Justiça e ex-secretário de Segurança do Distrito Federal (DF) Anderson Torres defendeu nesta terça-feira (8) que a responsabilidade pela quantidade de policiais na Esplanada dos Ministérios, quando dos ataques de 08/01, era da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF). Ele argumentou que a Secretaria de Segurança era responsável pelo planejamento da operação e não de sua execução, ainda que a força estivesse sob sua responsabilidade.
“O que o protocolo colocou para a PM, a PM tem que cumprir; o que o protocolo colocou para a Polícia Civil, a Polícia Civil tem que cumprir. Meios, efetivos, número de homens, é com cada instituição”, explicou o ex-secretário em depoimento à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investiga os atos golpistas de 8 de janeiro.
Torres afirmou que pretende colaborar com as investigações, tanto que não exerceu seu direito de ficar calado para não se comprometer. Questionado sobre a minuta que estabelecia os argumentos jurídicos para uma tentativa de golpe que anulasse o resultados da eleições, Torres afirmou que se tratava de uma peça “fantasiosa” pronta para ser descartada. O trecho mais sensível foi quando o ex-ministro afirmou não saber quem do governo havia lhe entregue o documento, que estava timbrado. “Durante uma operação de busca e apreensão em minha casa, a polícia encontrou um texto apócrifo, sem data, uma fantasiosa minuta, que vai para a coleção de absurdos que constantemente chegam aos detentores de cargos públicos. Vários documentos vinham de diversas fontes para que fossem submetidas ao ministro”, justificou. Em outra ocasião ele já havia chamado a minuta de “folclórica” e “fantasiosa”.
Esta é a primeira vez que Torres falou em público sobre o papel dele à frente da Segurança do DF quando ocorreu a invasão das sedes dos Poderes, em Brasília. Segundo ele, caso o Protocolo de Ações Integradas (PAI), que continha o planejamento da segurança para o dia 8 de janeiro, tivesse sido seguido à risca, “seríamos poupados dos lamentáveis atos do dia 8 de janeiro”.
Preso preventivamente devido aos atos golpistas e agora em liberdade vigiada, o ex-secretário disse que viajou “tranquilo” para os Estados Unidos na noite de 6 de janeiro, pois não tinha informações sobre risco de uma ação radical em Brasília. Segundo ele, o Comandante Militar do Planalto, general Dutra, havia mostrado que o acampamento em frente ao Quartel General (QG) do Exército, em Brasília, estava “praticamente desmontado”. O ex-secretário acrescentou ainda que “não havia confirmação de ônibus chegando à cidade”.
A relatora da CPMI, senadora Eliziane Gama (PSD-MA), questionou a versão. Para a parlamentar, as autoridades ouvidas pela comissão estão jogando a reponsabilidade uma para a outra. “Nós estamos ouvindo pessoas dos serviços de inteligência, nós estamos ouvindo pessoas da ação mais ostensiva, e a fala é sempre a mesma: ‘Eu mandei alerta e eles não cumpriram’. Quem está do lado que deveria cumprir, que é a ação ostensiva, e diz: ‘Olha, eu não estava aqui no Brasil, eu estava fora do Brasil, era para a Polícia Militar fazer e ela não fez’. Então, fica, na verdade, um jogo de responsabilidade”, concluiu.
Ainda que não estivesse diretamente ligado com o ataque em Brasília, as ações duvidosas da Polícia Rodoviária Federal (PRF), dificultando o deslocamento de eleitores em estados do Nordeste entrou nos questionamentos dos parlamentares. Torres afirmou nada ter com isso, apesar de sua viagem à Bahia na semana do segundo turno eleitoral. Torres argumentou que se trataria de uma visita para inspecionar obras na superintendência.
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