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Em busca do drink perfeito: o dry martini

Trata-se de uma mistura simples. Mas a perfeição, muitas vezes, está na simplicidade.

Basta apenas escolher duas doses de gim e adicionar algumas gotas de vermute branco. Se você for um apreciador radical de James Bond, irá bater o precioso líquido com gelo em uma coqueteleira (“Shaken, not stirred”, sempre pede 007 em seus filmes – mas substituindo o gim pela vodca); a maioria das pessoas, porém, utiliza uma bailarina para mexer os dois ingredientes e as pedras.

O resultado dessa alquimia, quando bem executado, é sublime. O segredo está em gelar bastante o drink e não exagerar no vermute (geralmente, o francês Noilly Prat). Teremos então uma bebida forte, elegante e deliciosa. Cuidado com o vermute. Recentemente, em um restaurante da moda, tentei beber um dry. A pessoa que trabalhava no bar insistia em colocar uma dose generosa de vermute, dando ao resultado final uma bebida com cor de palha. Mandei voltar o drink e, apesar dos meus protestos, ele retornava do mesmo jeito, um tanto adocicado pelo Noily Prat. Desisti depois da terceira tentativa e pedi um negroni.

A minha paixão pelo dry martini surgiu quando tinha dezenove anos. Fui assistir a uma reprise do filme “O Fundo do Coração” (“One From the Heart”), de Francis Coppola, cuja trilha sonora (maravilhosa) é de Tom Waits, com a contribuição da cantora country Crystal Gayle. O filme possui um roteiro um tanto bobo, mas conta com soluções espetaculares do ponto de vista visual (iluminação, edição e transição de cenas).

Uma das razões que me fizeram ver esse filme foi a presença de Nastassja Kinski, por quem eu nutria uma paixão platônica. E uma cena específica, na qual ela aparece dançando em uma taça de dry martini, me chamou a atenção (a imagem é a que ilustra esse artigo). Naquela mesma noite, encarei o meu primeiro martini – e adorei. Até hoje, é um de meus “comfort drinks”, ao lado de um shot de Jack Daniel’s (straight up) e de um negroni com um cubo gigante de gelo. Estranhou o termo? Pergunto: não existe “comfort food”? Então. Essas bebidas são, para mim, seu equivalente no mundo líquido, trazendo um enorme conforto para a alma.

Há duas versões para o nascimento deste drink. A primeira é a de que foi inventado no século 19, na Costa Oeste americana (Los Angeles ou São Francisco) e se chamava originalmente Martinez. Outra hipótese nos ensina que ele foi criado em Nova York, no ano de 1911, no Hotel Knickerbocker, por um bartender chamado Martini di Taggia, e executado especialmente para o fundador da Standard Oil, John Rockefeller.

A receita original, no entanto, levava angostura e uma alta quantidade de vermute. Quem criou o dry martini como conhecemos hoje foi o Harry’s Bar, em Veneza, que reduziu a quantidade de vermute na fórmula e eliminou as gotas de angostura.

Você já tomou um dry martini no Harry’s Bar de Veneza? Então, talvez ainda não conheça o que é a felicidade completa. O lugar é pequeno e não comporta mais que trinta pessoas. O balcão do bar tem apenas seis banquetas. Neste lugar, clássicos como o Bellini e o carpaccio foram inventados – e o dry martini aperfeiçoado, para o deleite de habituês como o escritor Ernest Hemingway.  

O martini do Harry’s chega até você a bordo de uma pequena taça, na qual conseguimos, se tanto, desfrutar de apenas dois goles. O vidro vem trincando de tão congelado – e o mesmo vale para a temperatura do drink. Talvez por isso, ele deve ser o martini mais seco que já bebi na vida (e olhe que o meu “track record” neste quesito é bastante extenso). Mas, atenção: na Itália, essa bebida se chama “martini cocktail – con gin”. Diga isso ao bartender (na minha visita, a boa alma que misturava a bebida se chamava Claudio) com o sotaque italianado que os paulistas têm e você fará um sucesso danado.

No Brasil, meu favorito durante anos foi o do Gero, cuja taça era enorme. Hoje, prefiro o do bar da recepção do hotel Fasano (o original). A taça vem apenas com metade da dose. O restante está acondicionado em uma jarrinha de cristal, envolta em gelo picado. Dessa forma, a bebida nunca esquenta.

No início dos anos 2000, tentei aderir à moda nova-iorquina de beber o que se chama no exterior de “dirty martini”, que consiste em batizar o gim com o suco que faz a conserva das azeitonas. Isso deixa o drink muito salgado e com uma aparência turva. Tentei, mas não gostei. Prefiro mil vezes o original.

Nessas horas, vale o que escrevi no início deste texto: a simplicidade é o melhor caminho para a perfeição. Mas lembre-se que tudo o que você sente após esvaziar a taça de dry é fugaz. Como dizem nos Estados Unidos, um aumento de salário é como um martini: eleva o seu espírito, mas apenas temporariamente.

É, de fato, uma emoção rápida. Mas, parafraseando Vinicius de Moraes (um amante do scotch), que seja infinita enquanto dure.

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