Entenda como funcionam as descobertas de Karikó e Weissman, que salvaram bilhões com mRNA
O Prêmio Nobel Medicina e Fisiologia de 2023 foi um dos mais óbvios desde que foi estabelecido, em 1901. Nesta segunda-feira (2), o Instituto Karolinska, de Estocolmo, Suécia, anunciou que o reconhecimento vai para os cientistas Katalin Karikó (68) e Drew Weissman (64) pelos estudos que permitiram o desenvolvimento de vacinas eficazes contra a covid-19 a partir de adaptações para o mRNA – o RNA mensageiro. O trabalho permitiu a criação da Comirnaty, desenvolvida pela BioNTech em parceria com a Pfizer e adotada no Brasil pelo Plano Nacional de Imunização (PNI). Descoberta há 15 anos, a técnica possibilita a criação em tempo recorde de vacinas a partir de material sintético, evitando bilhões de infecções sintomáticas e salvando milhões de vidas.
O trabalho de Karikó e Weissman permitiu um “bloqueio” nos genes usados pelo vírus da covid para se instalar no corpo humano. Ambos perceberam, lá em 1997, que algumas modificações básicas na estrutura do mRNA poderiam deixá-lo menos inflamatório. Em 2021, no meio da pandemia, eles já haviam dividido o prêmio Lasker.
Pelo método tradicional de imunização, as vacinas eram feitas a partir de um agente infecioso morto ou atenuado que levava o nosso organismo a reconhecê-lo como um corpo estranho e a desenvolver uma resposta imunológica preventiva.
O conceito do mRNA é tão simples quanto foi de difícil execução inicial: as células do corpo absorvem as “instruções” das moléculas de mRNA para produzir proteínas. Assim, a resposta da vacina se dá pela mesma maneira que o próprio vírus da covid-19 (SARS-CoV-2) infecta as células humanas. Porém, a nova vacina só carrega a “proteína S da espícula”, que impede o vírus que aderir às células, impedindo a infecção.
Como funciona
- Todas as células carregam dentro de seus núcleos o DNA, onde estão as informações completas e individuais de cada ser – são como uma carteira de identidade -, estabelecendo características físicas, assim como resistências e fraquezas contra doenças;
- O DNA envia comandos às nossas células, espalhando cópias de si, como se fosse o sistema operacional de um computador. Isso é o RNA mensageiro, o mRNA;
- Esse material sai do núcleo das células e vai até os ribossomos, no citoplasma das células. Lá as “cópias” são “lidas” e replicadas como uma proteína específicas;
- Ao adaptar o mRNA, os cientistas conseguem “bloquear” os pontos em que o vírus vai “colar” nas células, permitindo que “morram” sem nos atingir com força.
Karikó nasceu na Hungria e se especializou em bioquímica. Ela trabalha na farmacêutica BioNTech e é professora da Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos. Durante sua pesquisa, chegou a ter financiamentos negados e quase perder seus cargos por defender que suas descobertas poderiam imunizar bilhões de modo eficiente. Ela chegou a temer até perder o visto de trabalho nos EUA.= Weissman também atua na Universidade da Pensilvânia. Natural dos EUA, ele estudou imunologia e microbiologia durante a sua formação.
Agora ambos vão compartilhar um prêmio de cerca de US$ 5 milhões e entrar no seleto grupo de pesquisadores que conta com heróis da humanidade, como Robert Kock (1905), por seus estudos sobre a tuberculose; Alexander Fleming (1945), pela descoberta da penicilina; Watson e Crick (1962), pela descoberta da estrutura molecular do DNA; Konrad Lorenz (1973), por estudos de padrões de comportamento individuais e sociais; e Luc Montagnier (2008), pela descoberta do Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV), causador da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (aids).
O diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, comentou: “Suas descobertas permitiram o desenvolvimento de vacinas de mRNA eficazes contra a covid-19. A dedicação à ciência ajudou a salvar vidas”, escreveu em uma rede social.
Membro da Assembleia do Nobel e do Instituto Karolinska, Rickard Sandberg, declarou: “O Prêmio Nobel deste ano reconhece a descoberta científica básica que mudou fundamentalmente nossa compreensão de como o mRNA interage com o sistema imunológico e teve um grande impacto na sociedade durante a recente pandemia”.
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