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Greve em SP: a esquerda dá um tiro no pé

A Folha de S. Paulo é vista por muitos como uma publicação alinhada à esquerda. Tanto é que os antigos apoiadores de Jânio Quadros a chamavam de “Folha de Moscou”, assim como os atuais bolsonaristas a apelidaram de “Foice de S. Paulo”. Por isso, um editorial publicado ontem pelo jornal chamou a atenção: o texto detona a greve promovida ontem em São Paulo, que paralisou boa parte do transporte público para protestar contra privatizações que devem ser feitas pelo governo de Tarcísio de Freitas.

O título do editorial? “Privatize-se”.

A Folha diz o seguinte: “O que interessa num serviço público é ele atender aos cidadãos de modo eficiente, universal e ao menor custo possível. O setor público brasileiro deu reiteradas mostras de inaptidão para essa tarefa, por exemplo na vergonhosa cobertura do saneamento que companhias estatais legaram ao país. Clientelismo, aparelhamento político, inchaço salarial, aversão à inovação, ojeriza à otimização de custos e corporativismo são algumas das chagas que explicam esse fracasso histórico. As empresas controladas pelo governo paulista ora alvo da greve não estão imunes a esses e outros vícios”.

O texto, então, arremata: “a privatização de Sabesp, Metrô e CPTM é um caminho promissor para elevar o nível de serviços aos cidadãos a que essas companhias servem, num regime tarifário justo e acessível”.

Os editorialistas da Folha ainda fazem uma ponderação importante: “Se a intenção dos grevistas era chamar a atenção da população para eventual piora dos serviços com as privatizações, o efeito tende a ser o oposto. As quatro linhas administradas pelo mesmo grupo empresarial privado não aderiram ao movimento paredista, assim como em manifestações anteriores”.

Ou seja, a esquerda acabou dando um tiro no próprio pé. Quis protestar contra a privatização, mostrando que esse tipo de transtorno (greve por motivos ideológicos) só é possível dentro do serviço público. A coisa fica ainda pior quando lembramos que a Justiça avisou que a paralisação por razões fora do espectro trabalhista não seria tolerada e acarretaria uma multa de R$ 500 000 aos três sindicatos envolvidos no movimento.

A cidade, como se esperava, foi tomada pelo caos: trânsito anárquico, ônibus apinhados, táxis disputadíssimos e aplicativos de transporte com preços proibitivos. O mau humor da população foi direcionado aos manifestantes e respingou na imagem do candidato da esquerda, Guilherme Boulos.

O deputado do PSOL, por sinal, tentou virar o jogo e botar a culpa do caos no governador Tarcísio. Ele escreveu em uma conta nas redes sociais: “A intransigência do Governo de SP é a grande responsável pela Greve de hoje no Metrô/CPTM. Os trabalhadores propuseram em juízo liberar as catracas em vez da paralisação, pra não prejudicar os usuários. O Governo Estadual recusou a proposta. Apostou no conflito e não no diálogo”.

Ocorre que Boulos distorce a realidade em favor de seus argumentos. Quem recusou a proposta de catraca livre foi a Justiça e não o Palácio dos Bandeirantes. Em despacho emitido na segunda-feira, o desembargador Celso Furtado de Oliveira afirma que “a determinação pela via judicial para liberação de catracas, motivado pela comutação da realização da greve, além de afrontar o princípio norteador da liberdade econômica, destoa dos princípios do movimento paredista, impondo desequilíbrio na relação Capital x Trabalho”.

Os sindicatos paulistanos ainda vivem no século passado, especialmente por achar que a população é sensível ao argumento de que os serviços oferecidos pelo Estado piorariam na mão da iniciativa privada. A expansão, a cobertura e o barateamento da telefonia celular são exemplos de como as coisas funcionam de forma eficaz quando saem da órbita pública. O mesmo pode ser dito em relação às estradas que hoje são geridas pelo capital de risco. A sociedade tem essa percepção e sabem que a demonização das privatizações é conversa para boi dormir. Até quando teremos de conviver com dirigente sindicais retrógrados e descolados da realidade?

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