Em qualquer debate sobre os problemas do Brasil, há uma unanimidade em relação à educação: é o único caminho para um futuro melhor, a melhor maneira de fomentar o conceito de cidadania, a fórmula da prosperidade de uma nação etc. Mas duas pesquisas divulgadas nesta semana mostram que, na prática, talvez a educação não seja tão importante assim para nós.
A primeira pesquisa foi feita pela Fundação Getúlio Vargas, tomando como base os salários de 126 profissões que exigem diploma universitário. O setor de educação ocupa os dez primeiros lugares em termos de pior remuneração, a começar pelos profissionais de escolas infantis, que ganham, em média, R$ 2.285,00 mensais, menos que dois salários-mínimos. Se achássemos mesmo que o ensino é tão importante assim, iríamos deixar essa situação perdurar?
O segundo estudo, desenvolvido pelo Instituto Península, mostra que apenas 22 % dos jovens das classes A e B consideram atraente a carreira de professor. Entre as classes C e D, porém, esse índice sobe para 60 %.
A conclusão óbvia, diante da pesquisa da Península, é a de que as elites podem falar que a educação deveria ser a prioridade do país, mas não exatamente valorizam a profissão de docente. Sejamos sinceros: você ficaria feliz se seus filhos dissessem que queriam seguir a carreira de professor?
Posso falar por experiência própria: meu filho disse que gostaria de ser educador ainda no terceiro ano do Ensino Médio. Confesso que não gostei do que ouvi. Afinal de contas, eu tinha investido um dinheiro razoável na educação do menino e esperava que ele seguisse uma carreira com maiores chances de projeção.
Passado o choque inicial, quis entender melhor essa vocação. Percebi, então, que ele desejava trabalhar para melhorar o ensino de forma geral. Nunca havia conhecido um jovem de classe média alta com esse tipo de aptidão. Hoje, muitos querem fama, sucesso ou dinheiro. Mas meu filho estava preocupado com o futuro do país e tinha ideias para melhor a educação brasileira, a começar pela escola onde iria trabalhar.
Ele começou como estagiário em uma escola particular e hoje é professor do Ensino Médio. Quer fazer um mestrado e trabalhar em universidades. Mas, a julgar por sua veia empreendedora, acredito que ele não ficará apenas nessas esferas.
Tive de entender o interesse do meu filho pela educação para apoiar sua escolha. Mas me pego pensando em quantos professores espetaculares deixamos de ter por conta da influência de pais e mães que – com a melhor das intenções – preferem que seus rebentos trilhem por caminhos com maior possibilidade de ganhos financeiros.
O fato é que as elites enxergam com preconceito essa que é uma das profissões mais dignificantes do mundo. Até os anos 1960, o cargo de professor era visto com admiração. Depois, contudo, foi se tornando uma profissão desprezada pela juventude. E essa visão predomina até hoje.
Como as elites passaram a desprezar o ensino em geral, abriu-se espaço para que a esquerda dominasse de vez a classe de professores. Hoje, muitos ideólogos de direita reclamam da politização imposta por determinados docentes. Mas temos de reconhecer que essa não foi uma profissão estimulada junto aos jovens de famílias conservadoras.
Educar é transformar vidas. Para isso, é preciso uma alta dose de altruísmo, mercadoria que está em falta nas prateleiras do mundo moderno. Ontem, tive o privilégio de entrevistar Daniel Castanho, presidente do Conselho do Grupo Ânima para meu programa de TV na BM&C News (canal 579 na Vivo e 563 na Claro; quintas-feiras, às 21:00). Ele me deu uma definição fabulosa do que é sucesso para um professor. “Para quem educa, riqueza se mede pela quantidade de olhos brilhando”, disse ele. “O professor, antes de mais nada, tem de inspirar seus alunos. A inspiração muda tudo e abre novas portas para os jovens”.