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Direita na CPMI de 8/1: ingenuidade ou burrice?

Quando surgiu no horizonte a ideia de se realizar uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito sobre os ataques realizados em Brasília no dia 8 de janeiro, a Direita exultou. Seria a oportunidade perfeita para que a tese dos bolsonaristas fosse comprovada – a de que a balbúrdia tinha sido provocada por esquerdistas infiltrados e não pelos revoltosos que protestavam contra o resultado das eleições que colocaram Luiz Inácio Lula da Silva no Palácio do Planalto.

A tropa de choque do ex-presidente Jair Bolsonaro, ainda, acreditava que contaria com o apoio do Centrão nessa empreitada. O raciocínio, no primeiro trimestre deste ano, aparentemente fazia sentido. Afinal, o Congresso tinha sido ocupado por uma parcela considerável de parlamentares conservadores, que prometia emparedar Lula a cada votação.

Observadores mais calejados da política nacional, no entanto, não descartavam a hipótese de o governo conseguir costurar um acordo com o Centrão, distribuindo cargos e verbas conforme a conveniência de deputados e senadores. O que se aconteceu a seguir foi uma aproximação paulatina entre Planalto e o presidente da Câmara, Arthur Lira, o líder dos centristas. Essa aliança é marcada por altos e baixos, mas vai se consolidando aos poucos. E, agora, percebe-se que o Centrão deixou a Direita – e os bolsonaristas em especial – a ver navios.

A chamada CPMI dos Ataques Golpistas foi um desastre para os direitistas. O relatório final pediu o indiciamento de 61 pessoas, entre as quais Bolsonaro e alguns militares, e foi aprovado por 20 votos contra 11.

Esse resultado, no entanto, era bastante previsível. Por que, então, a Direita entrou nessa? Foi ingenuidade ou burrice? Talvez uma mistura das duas coisas, a começar pela ingenuidade. Há muitas estrelas direitistas que são marinheiros de primeira viagem no Congresso, como o ex-ministro Ricardo Salles, e ainda não possuem experiência suficiente para entender os movimentos do Centrão ou têm cacife para neutralizar as alianças dos centristas.

Mas houve também falta de inteligência na condução de vários temas dentro da Comissão. Isso, porém, não quer dizer que a Direita esteja povoada somente por imbecis. Ocorre que a maioria dos congressistas que exercem oposição ferrenha fazem política com o fígado. Embalados pela raiva, não conseguem enxergar o óbvio e acabam enrolados pelo Centro e pela Esquerda. Como consequência, não conseguem agir de forma inteligente.

O cenário, temperado pela polarização política, fica ainda mais complicado.

De um lado, o relatório final irritou profundamente os militares da Reserva – um dos epicentros do conservadorismo brasileiro. Especialmente porque o texto mirou em seis fardados que ocuparam posições importantes no governo Bolsonaro. De outro, na Esquerda, há uma disposição férrea para que se busquem os responsáveis pelo 8 de janeiro com mão de ferro. Além disso, há um mote reinando entre os esquerdistas: “sem anistia para golpistas”.

Aqueles que estão revoltados com a lista de nomes que será encaminhada para indiciamento não devem ficar com raiva apenas da Esquerda. Boa parte dessa situação ocorreu também por causa da Direita, que confiou demais no próprio taco e passou o tempo todo no ataque.

Que esse episódio sirva de lição para os direitistas. Em um cenário no qual os protagonistas políticos estão no Congresso, até presidentes da República precisam engolir sapos de vez em quando em nome da governabilidade. A Direita precisa entender que política é a arte de negociar. Não se pode atuar no Congresso apenas no ataque. O estilo bolsonarista, muito comum no Executivo entre 2019 e 2020, não pode ser transportado para o Parlamento, que é tradicionalmente uma casa de discussão e de negociação. Sem conversa na Câmara e no Senado, nada feito. A Direita precisa aprender isso. Urgentemente.

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