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A chantagem do Centrão, depois da Caixa, vai aumentar?

A chantagem é um mecanismo que geralmente nos choca quando a testemunhamos. Mas, no fundo, não deveríamos nos sentir assim. Afinal, a chantagem está em nossas vidas desde a idade mais tenra. Quem é que nunca foi chantageado pelos pais, na linha “se não comer o bife, não terá sobremesa”? Ou quem nunca fez a mesma coisa com os filhos, em situações diferentes e ameaçando cortar a mesada? Ou, na vida adulta, quem não chantageou emocionalmente amigos, amigas, namorados e namoradas?

Chantagear alguém por motivos sérios, no entanto, é algo moralmente condenável, que nos deixa invariavelmente indignados. Mas, ao mesmo tempo, é uma prática que se encontra em todos os lugares: na família, nas amizades, no trabalho e, claro, na política.

Anteontem, por exemplo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva finalmente cedeu à chantagem do Centrão e demitiu Rita Serrano da presidência da Caixa Econômica Federal para nomear Carlos Antonio Vieira Fernandes, indicado pelo presidente da Câmara, Arthur Lira. Esse afastamento deverá ser seguido pela demissão de doze vice-presidências da instituição para acomodar apadrinhados do Centrão.

Lula tinha feito esse acordo há algum tempo, mas ficava protelando a troca de guarda na Caixa, na esperança de adoçar a boca dos centristas com outra guloseima. Irritado com a demora, Lira seguiu a cartilha do Centrão: travou a pauta da Câmara e paralisou projetos importantes para o ministro Fernando Haddad, como a taxação de fundos exclusivos e de carteiras off-shore. No mesmíssimo dia em que Serrano foi demitida, a pauta foi aprovada na Câmara, com 323 votos a favor.

No governo, há um sentimento de alívio pela aprovação desta medida e pela expectativa de que outras pautas importantes serão igualmente encaminhadas e positivadas pelo plenário. Mas talvez a coisa não seja tão simples assim.

A relação entre Centrão e Planalto sempre é marcada pela insatisfação crescente por parte de quem demanda cargos e verbas. Tome-se o exemplo do governo passado. Jair Bolsonaro fez um acordo com o grupo em meados de 2020, depois de uma relação bastante conturbada com o Congresso.

Até então, ele era um crítico frequente deste agrupamento político. Vejamos o que Bolsonaro disse em agosto de 2018, quando apresentou seu programa de governo: “Um governo sem toma lá dá cá, sem acordos espúrios. Um governo formado por pessoas que tenham compromisso com o Brasil e com os brasileiros. Que atenda aos anseios dos cidadãos e trabalhe pelo que realmente faz a diferença na vida de todos. Um governo que defenda e resgate o bem mais precioso de qualquer cidadão: a liberdade. Um governo que devolva o país aos seus verdadeiros donos: os brasileiros”.

A independência de Bolsonaro durou cerca de um ano e meio. A partir de junho de 2020, passou a distribuir cargos e salários para parlamentares aliados. Mas o apetite do Centrão é praticamente insaciável. Cerca de um ano depois da aliança, Bolsonaro nomeou Ciro Nogueira, uma das estrelas deste grupo, como ministro da Casa Civil. E filiou-se ao PL em novembro de 2021. Com isso a influência dos centristas no governo, que começou tímida, ficou totalmente escancarada.

Com Lula, ocorrerá a mesma escalada? Talvez não. A demora na demissão de Rita Serrano na Caixa mostra que Lula ainda está testando os limites da paciência de Lira. E que ele vai liberar cargos em sua velocidade. Parece que, neste ballet, Lula não é um chantageado padrão. Ele mantém o sangue frio e estica deliberadamente a corda para ver a reação de seu aliado, que muitas vezes age como opositor. Lira vai aceitar esse jogo ou baterá na mesa? Tudo vai depender do apetite do presidente da Câmara, que continua pantagruélico como manda a cartilha do Centrão.

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