O personagem Chandler Bing se destacava na série “Friends”, embora cada um das outras cinco estrelas do programa também tivessem seu charme particular. Mas Chandler era sarcástico, irônico e inteligente. De todos, era o bem-sucedido da turma, embora ninguém soubesse exatamente qual era sua profissão. Tinha um background familiar que estava à frente do tempo em que o seriado foi produzido, com início em 1994: sua mãe (vivida por Morgan Fairchild) era uma escritora com ares de ninfomaníaca e o pai, uma mulher trans (interpretada por Kathleen Turner).
O ator Mathew Perry sempre seria comparado com Chandler Bing. E ele mesmo, ao ler o script original, viu inúmeras semelhanças entre si mesmo e o personagem. Mas muitos esperavam que ele se comportasse como na ficção, embora ninguém pudesse ter a mesma rapidez de raciocínio e a mordacidade que a de um papel cujas frases eram cuidadosamente pensadas, escritas e editadas para se chegar a um resultado perfeito. Neste quesito, Perry era uma espécie de Rita Hayworth da perspicácia. Hayworth dizia que seu papel mais famoso, Gilda, a tornava um símbolo sexual, mas isso atrapalhava a sua vida: “Os homens dormem com Gilda e acordam comigo”, dizia. Com Perry, ocorria algo parecido — mas no plano intelectual.
Muitos fãs da série queiram ser como Chandler. E se frustravam ao ver que era impossível ser mordaz de uma forma inteligente o tempo todo. Essa frustração pode ser vista entre os adolescentes de hoje, que, movidos pelos lacres que ocorrem diariamente nas redes sociais, também querem ser assim – embora desconheçam o personagem vivido por Perry.
Outro ponto que a saga de Mathey Perry nos ensina: a batalha contra as drogas é dura e não permite descanso. Caso contrário, o inimigo sempre vencerá. Ele entrou e saiu de clínicas de reabilitação várias vezes durante os dez anos em que a série durou – e gravou a sequência em que Chandler se casava com Monica durante um desses períodos. As gravações acabavam e ele voltava para a clínica. No dia seguinte, de lá ia ao estúdio. Perry chegou a gastar US$ 7 milhões em tratamentos e nunca sentiu que teria mais forças que o vício.
Em seu livro de memórias, publicado no ano passado, ele escreveu o seguinte: “Tive muitos altos e baixos na minha vida. Ainda estou trabalhando nisso pessoalmente, mas a melhor coisa sobre mim é que se um alcoólatra ou viciado em drogas vier até mim e disser: ‘Você pode me ajudar?’, sempre direi: ‘Sim, eu posso fazer isso. Farei isso por você, mesmo que nem sempre consiga fazer por mim mesmo’.
Em uma entrevista recente, ele disse o seguinte: “Quando eu morrer, sei que as pessoas vão falar sobre ‘Friends’, ‘Friends’, ‘Friends’. E eu fico feliz por isso. Feliz por ter feito um trabalho sólido como ator, e também por ter dado às pessoas muitas chances de tirarem sarro da minha luta na internet. Mas quando eu morrer, no que diz respeito às minhas supostas realizações, seria bom se “Friends” estivesse listado bem depois das coisas que fiz para tentar ajudar outras pessoas. Eu sei que isso não vai acontecer. Mas seria bom”.
Rest in peace, Mathew. As long as you are in the afterlife, try to meet Lenny Bruce. I thing you guys will be pals, just like Chandler and Joey were. Same background, same problems, same talent. I’m sure you’re gonna enjoy his company.