Reportagem publicada no Valor Econômico de ontem mostra que existe um número crescente de empresas que aposta em clubes de leitura para melhorar a integração entre colaboradores e lideranças. Através de reuniões semanais, as pessoas discutem um determinado livro, trocam impressões e abrem debates sobre temas que surgem nas páginas de leitura.
Esses grupos, ao contrário do que se possa pensar, não se debruçam somente sobre publicações de cunho corporativo, como biografias de empresários ou textos sobre gestão nas companhias. A maioria dos livros é de ficção. Alguns dos títulos mencionados na matéria: “A festa de Babette” (Karen Blixen), “O conto da ilha desconhecida” (José Saramago) e “O velho e o mar” (Ernest Hemingway).
Iniciativa espetacular, criada em uma época na qual o hábito de leitura parece diminuir, especialmente entre as gerações mais novas (acabo de incorrer em um clichê… peço desculpas).
A leitura, especialmente a de ficção, estimula a criatividade e a imaginação. Cada um imagina a narrativa de forma diferente em sua mente – e somente isso já é um ponto de partida fabuloso para discussões em grupo. Mas, além disso, um indivíduo em particular pode interpretar a história de forma diferente da do colega. A troca de impressões, neste caso, pode abrir a cabeça dos leitores e proporcionar novas ideias com a abertura de perspectivas diversas.
Chama a atenção a preferência da leitura desses grupos, aparentemente por literatura estrangeira. Gostaria de sugerir aos mentores dessas iniciativas que se debrucem por autores brasileiros. Esses escritores podem gerar discussões profícuas. Um deles é Machado de Assis, cuja obra continua moderna – e o estilo atualíssimo.
Mas vamos avançar pelo Século 20. Temos literatos esplêndidos. Érico Veríssimo (pai de Luís Fernando), Antonio Callado, Rubem Fonseca e Nelson Rodrigues, para ficar em poucos nomes. E no quesito contos e crônicas? Há mestres como Carlos Drummond de Andrade, Rubem Braga e Fernando Sabino.
Quando o assunto é literatura, lembro sempre de um amigo que me disse nunca ler ficção, apenas livros relacionados ao mundo empresarial. Retruquei que havia tido as melhores ideias da minha vida após a leitura de histórias ficcionais. Isso pode não acontecer com todo mundo. Mas, no meu caso, a cabeça flui melhor quando estou diante de um enredo inteligente e escrito com elegância. Isso estimula meu cérebro tanto quanto um filme espetacular, recheado de diálogos inteligentes. Ou de uma melodia envolvente com uma letra original.
George R. R. Martin, autor da coleção de livros que foi adaptada para a série “Games of Thrones”, resumiu bem como vejo o hábito da leitura e a necessidade de mergulharmos na literatura com frequência. Ele disse: “Um leitor vive mil vezes antes de morrer; o homem que nunca lê vive apenas uma vez”.