Por Jeff Mason e Denis Pinchuk
HENSINQUE (Reuters) – O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse depois de se encontrar com Vladimir Putin nesta segunda-feira que não vê motivo para acreditar mais em suas próprias agências de inteligência do que no líder do Kremlin na questão da suposta interferência da Rússia que o teria ajudado a se eleger em 2016.
Em um dia no qual enfrentou a pressão de críticos, países aliados e até de sua equipe para adotar uma postura mais rígida, Trump não disse sequer uma palavra reprovadora sobre Moscou em nenhum dos temas que levaram as relações entre as duas potências ao seu pior momento desde a Guerra Fria.
Ao invés disso ele denunciou a “estupidez” da política de seu próprio país, especialmente a decisão de investigar a interferência eleitoral.
O gesto de Trump deve criar uma tempestade política nos EUA, já que a Casa Branca passou meses tentando dissipar a insinuação de que Trump não estava disposto a questionar Putin.
Sua postura foi considerada por um ex-chefe da CIA como “traiçoeira”, e um senador republicano a repudiou por ser “vergonhosa”, embora outros governistas tenham sido mais cautelosos.
O presidente da Câmara dos Deputados, Paul Ryan, disse que “não há dúvida” de que Moscou interferiu na eleição de 2016 e que Trump “precisa reconhecer que a Rússia não é nossa aliada”.
Trump se reuniu com Putin poucos dias depois de um procurador especial dos EUA indiciar 12 agentes russos por roubarem documentos do Partido Democrata para ajudá-lo a vencer a eleição.
Indagado se acredita nas agências de inteligência norte-americanas, que concluíram que a Rússia interferiu na votação de 2016 para ajudá-lo a derrotar a candidata democrata Hillary Clinton, ele disse não estar convencido.
“Não vejo nenhuma razão para ser” a Rússia, disse Trump. “O presidente Putin foi extremamente enfático e contundente em sua negação hoje.”
Antes mesmo de a cúpula começar Trump já culpou seu próprio país pela deterioração das relações.
“Nosso relacionamento com a Rússia nunca esteve pior graças a muitos anos de tolice e estupidez dos Estados Unidos e, agora, da manipulada caça às bruxas”, disse ele no Twitter.
O Ministério de Relações Exteriores russo tuitou em resposta: “Concordamos”.
Na coletiva de imprensa, Trump foi incitado pelos repórteres a fazer alguma crítica à Rússia, mas se recusou repetidamente. Questionado se a Rússia tem culpa pelo relacionamento ruim, respondeu: “Responsabilizo os dois países. Acho que os EUA foram tolos. Todos nós fomos tolos”, disse antes de desviar a conversa para sua vitória eleitoral.
“Derrotei Hillary Clinton facilmente e francamente a derrotamos… ganhamos aquela corrida e é uma pena que exista a menor desconfiança a esse respeito”.
As palavras calorosas de Trump para a Rússia marcaram um grande contraste com a semana passada, quando ele refutou aliados tradicionais de Washington várias vezes em uma cúpula da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e durante uma visita ao Reino Unido.
Indagado se Putin é um adversário, ele disse: “Na verdade eu o chamei de competidor, e ele é um competidor dos bons, e acho que a palavra competidor é um elogio”.
Putin falou da importância de os dois países trabalharam juntos e elogiou Trump, em certo momento interrompendo a coletiva de imprensa para lhe dar uma bola de futebol.
Questionado se queria que Trump vencesse a votação de 2016 e se instruiu autoridades a ajudá-lo, Putin respondeu “Sim, instruí”, mas negou qualquer interferência, dizendo que as alegações são uma “insensatez completa”.
O senador republicano Lindsey Graham disse que o comportamento de Trump enviará uma mensagem de “fraqueza” a Moscou.
“Oportunidade desperdiçada pelo presidente Trump para responsabilizar a Rússia com firmeza pela interferência de 2016 e enviar um alerta forte quanto a futuras eleições. Esta resposta do presidente Trump será vista pela Rússia como um sinal de fraqueza e criará muitos mais problemas do que resolve”, disse Graham no Twitter.
John Brennan, ex-chefe da CIA, foi mais longe, insinuando que Trump deveria ser retirado do cargo: “A postura de Donald Trump na coletiva de imprensa em Hensinque alcança e ultrapassa o limiar de ‘crimes e delitos graves’. Não foi nada menos que traiçoeira. Os comentários de Trump não foram somente imbecis, ele está inteiramente no bolso de Putin. Patriotas republicanos: onde estão vocês??”
(Reportagem adicional de Steve Holland, Jussi Rosendahl e Andrew Osborn em Helsinque e Christian Lowe e Polina Devitt em Moscou)