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A dificuldade do brasileiro em absorver derrotas

A seleção brasileira, na última terça-feira, sofreu a terceira derrota seguida nas eliminatórias para a Copa do Mundo – e, ainda por cima, para um rival histórico, a Argentina. Nos minutos finais, a torcida protestou de maneira cruel: começou a gritar “olé” a cada vez que os argentinos tocavam na bola.

O esporte bretão, no Brasil, é levado muito a sério. Discussões sobre qual time é melhor provoca até sopapos entre melhores amigos. Mas a manifestação no Maracanã, na noite de terça-feira, tem muito mais a ver com a combinação de dois problemas vividos por nós: o complexo de vira-lata, como dizia Nelson Rodrigues, e a incapacidade de absorver derrotas.

O amálgama dessas duas características, por exemplo, nos levou a desprezar pilotos como Rubens Barrichello e Felipe Massa, que não conquistaram campeonatos de Fórmula-1 como Emerson Fittipaldi, Nelson Piquet e Ayrton Senna. Barrichello chegou ao vice-campeonato duas vezes e teve como pedra no sapato ninguém menos que Michael Schumacher, considerado um dos maiores nomes da história do automobilismo. Já Massa foi vice uma vez e perdeu o título na última curva para Lewis Hamilton, que divide com o Schumacher o maior número de campeonatos de F-1.

O próprio Emerson Fittipaldi, bicampeão de Fórmula-1, foi acossado por todo o tipo de chacota por ter trocado a McLaren pela brasileira Copersucar, que o colocou no fundo do pelotão enquanto estava no auge de sua capacidade como piloto. Conseguiu refazer sua carreira de sucesso nos Estados Unidos, mas antes disso foi alvo de gozações intermináveis, tanto quanto Rubens Barrichello.

Evidentemente, ninguém fica feliz em perder. Até o mais frio dos europeus se irrita quando seu time perde. Mas precisamos entender melhor por que essas derrotas esportivas mexem tanto conosco, a ponto de aplaudir o nosso maior rival futebolístico como forma de protesto.

O Brasil não jogou bem, isso está bem claro. Mas o grito de “olé” era mesmo necessário?

Há muitos brasileiros que encaram disputas como uma batalha épica – qualquer tipo de disputa. Tomemos a polarização política como exemplo. Trata-se de um fenômeno que ocorre no mundo inteiro. Mas, aqui, qualquer debate político vira uma briga de proporções homéricas. Além disso, o antagonismo entre direita e esquerda, neste país, consegue contaminar praticamente todas os assuntos que ganham as mesas de bares e as redes sociais.

Somos passionais e levamos esse atributo para temperar tudo o que fazemos. Essa é uma peculiaridade que nos faz um povo único, guerreiro e solidário. Mas, ao mesmo tempo, esse aspecto passional pode nos tornar intolerantes e incapazes de aprender com as derrotas.

Há vários vídeos na internet com o jogador de basquete Michael Jordan e o astro Arnold Schwarzenegger mostrando que a derrota faz parte do processo de aprendizado que leva ao sucesso. É preciso entender isso e usar o insucesso para estudar o que fizemos de errado. Neste processo, não podemos ceder à tentação fácil da revolta e do inconformismo que surgem com um tropeço.

Ayrton Senna disse, em um passado longínquo, que o segundo colocado era o primeiro entre os perdedores. Ele não deixa de ter razão. Mas Senna disputou 161 corridas de F-1 e ganhou 41. Na prática, foi derrotado 120 vezes. Essas 120 derrotas são mais importantes que três títulos mundiais? Não.

Então, por que nos abatemos tanto e nos irritamos sobremaneira por conta de um insucesso?

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