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O que leva alguém a inventar fake news?

Dias atrás, recebi um post que juntava dois títulos. O primeiro aparecia assinado por um jornalista e tratava uma autoridade internacional de um jeito, na época em que Jair Bolsonaro era presidente; no segundo, aquela mesma pessoa era tratada de forma diferente, já pelo governo de Luiz Inácio Lula da Silva. A intenção era mostrar que o viés do jornalista mudara com a posse de Lula e que ele seria, assim, um simpatizante do PT.

Ocorre que o segundo título, mais benevolente, não era de autoria do articulista. A intenção de quem fez a montagem era uma só: mostrar que o jornalista era enviesado e que tratava o dirigente estrangeiro de forma implacável durante os tempos de Bolsonaro e de maneira bondosa sob Lula.

Confesso que fiquei estarrecido durante alguns minutos. O que intriga é: como alguém gasta o seu tempo para encontrar títulos de artigos que possam ser contraditórios e fazer uma montagem para parecer que o jornalista em questão fique com a pecha de esquerdista? Não conheço a orientação política deste articulista, mas pelos comentários é possível perceber que de Direita ele não é. Mesmo assim, como jornalista profissional, ele jamais escorregaria tão feio no quesito imparcialidade.

Chegamos a um ponto da polarização em que há um verdadeiro vale-tudo nas redes sociais quando o assunto é política. Neste cenário, não importa apenas atacar os políticos. Atacar a imprensa – que muitos da Esquerda e da Direita enxergam como um inimigo de plantão – também é uma jogada popular entre os radicais.

Nos últimos dias, o PT e seus asseclas digitais mostraram que entraram em um novo patamar de açoite nas redes sociais – e caíram matando em cima de uma jornalista do Estadão, Andreza Matais, a mesma que editou a reportagem que mostrou a primeira-dama do tráfico amazonense em duas reuniões de trabalho com secretários do ministro Flávio Dino.

Essa tentativa de assassinar reputações é algo que pôde ser vista com clareza no governo passado, com os movimentos bastante agressivos em cima das jornalistas Vera Magalhães e Patrícia Campos Mello – com a participação especial, inclusive, do ex-presidente Bolsonaro, dirigindo comentários lamentáveis sobre as duas profissionais de imprensa.

O que seu viu com a editora-executiva Andreza, no mês passado, não deixou nada a dever, em termos de virulência, à milícia digital dos extremistas de direita. O presidente Lula não se envolveu no episódio, mas a presidente do PT, Gleisi Hoffman, embarcou com tudo nos ataques à jornalista.

Quem faz da verdade uma vítima para atacar os inimigos é partidário da tese segundo a qual os fins justificam os meios. Ao contrário daqueles que são manipulados, quem constrói um fake sabe exatamente a mentira que está produzindo. No episódio dos títulos colocados lado a lado, o autor da presepada escolheu deliberadamente manchetes contraditórias para causar um mau julgamento do jornalista. Fez algo errado de caso pensado – e para agradar a quem queria acreditar em algo do gênero.

Já aqueles que são manipulados e passam a história falsa para frente estão em outra categoria: eles querem acreditar que aquilo seja verdade. Não se dão ao trabalho de checar a veracidade da mensagem que receberam e a republicam porque querem reforçar suas posições ideológicas. Lembro de ter alertado várias pessoas sobre artigos falsos que circulavam sob autorias fictícias. Advertidos sobre a falsidade, aqueles que postavam faziam questão de dizer que concordavam com tudo o que estava escrito – mesmo que o conteúdo fosse invencionice total.

Nesta batalha contra as fake news, é difícil conter o engajamento daqueles que espalham as notícias falsas. Alguém já constatou que os fakes viralizam muito mais rápido que a verdade. Isso ocorre porque as histórias inventadas são feitas sob medida para os receptores. Diante disso, só podemos chegar a uma triste conclusão: a realidade nunca se encaixa tão perfeitamente em uma mente polarizada como a mentira.

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