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A inteligência artificial e a preguiça do intelecto

Os benefícios que a inteligência artificial pode trazer à humanidade são quase que infinitos. Ainda estamos nos estágios iniciais dessa tecnologia que vai mudar o mundo que conhecemos – e, nesta fase, é natural que existam alguns erros e equívocos no processo. Daqui a pouco tempo, no entanto, vãos usar as ferramentas de IA para fazer quase tudo. Neste processo de incorporar a inteligência das máquinas ao nosso cotidiano, há dois riscos. O primeiro já foi discutido bastante: o desemprego de pessoas que exercem funções sem valor agregado, que podem ser substituídas por computadores assim como os ascensoristas foram trocados por painéis automáticos nos elevadores.

Mas há outra questão, ainda pouco discutida: a inteligência artificial pode gerar uma preguiça generalizada em nossos intelectos. Boa parte de nossos cérebros, hoje, é utilizada para armazenar conhecimento. Hoje, já terceirizamos boa parte dessas informações para a nuvem, acessando-a pelo Google. Mas a IA nos leva a um novo patamar. Os buscadores nos trazem resultados de pesquisa, que precisa ser aprimorada pelos usuários. O cérebro eletrônico (para usar uma expressão antiga), ao contrário, nos traz um prato pronto.

Conforme a inteligência artificial entrar de maneira definitiva em nossas vidas, vamos nos acostumar a receber informações que são uma espécie de compilação média daquilo que é publicado na internet. Isso pode trazer dois problemas.

O primeiro é a falta de acurácia nesses dados. Como o algoritmo da IA leva em consideração tudo o que é publicado online, há a possibilidade de sermos contaminados com fake news nesta coleta de informações. Isso ocorre com muita frequência nos dias de hoje e deve ser corrigido em breve. Mas sempre existirá a possibilidade de dados errados caírem nas mãos dos usuários de IA (há artigos que mencionam também a capacidade de ferramentas de inteligência capazes de inventar respostas – mas vamos, por enquanto, deixar isso para lá).

O segundo ponto é que podemos nos acostumar a acionar a máquina a cada instante que necessitarmos de alguma análise que poderíamos fazer por conta própria. Se todos nós formos utilizar a IA a cada hora que precisarmos de algum insight, a humanidade, aos poucos, vai perder a originalidade de opiniões e pensamentos – e pode ficar mais medíocre.

Haverá aqueles que vão utilizar a nova tecnologia para ampliar seus horizontes intelectuais, aproveitando essas ferramentas para refletir mais profundamente sobe determinados fatos. Afinal, boa parte das pesquisas podem ser feitas pela máquina, sobrando mais tempo para que os pensadores utilizem suas mentes para chegar a reflexões cada vez mais profundas.

Mas vamos combinar que esse tipo de iniciativa não é comum entre a maioria da população. Hoje, já vemos estudantes utilizando o Chat GPT para fazer o dever de casa. No fundo, esses jovens – rendidos à preguiça – estão apenas adiando um encontro com a matéria. Quando esse pessoal tiver de encarar uma prova, não poderá repassar o questionário ao computador ou ao celular – e, aí, talvez se arrependam de ter pedido aos robôs que fizessem a lição.

Como a implementação da IA entre nós não ocorrerá de uma hora para outra, haverá tempo para que a sociedade (especialmente os estudantes) aprenda a usar essas ferramentas de forma comedida e a afastar a preguiça na hora de estudar de verdade.

Quem se dará melhor com a IA, o pessoal de humanas ou de exatas?

Esse é um debate desafiador. A inteligência artificial pode poupar aos profissionais de humanas muito tempo e criar atalhos. Duas décadas atrás, por exemplo, somente programadores é que podiam criar sites. Hoje existem ferramentas que propiciam até a pessoa mais ignorante em termos de tecnologia a possibilidade de construir um portal.

Em um futuro próximo, alunos de humanas vão poder criar algoritmos com portais gratuitos, construindo, por exemplo, estudos que podem varrer a internet em questão de segundos e chegar a conclusões que demorariam, atualmente, meses para processar. Em compensação, alunos de exatas vão descobrir novas utilizações para a IA e podem aprimorar teorias e cálculos.

Ou seja: se não formos varridos da face da terra pelas máquinas (como ocorre em “O Exterminador do Futuro” e “Matrix”), as chances de utilizarmos a inteligência artificial para melhorarmos a nossa vida serão enormes. Vamos aproveitar essa fase de transição para crescer de forma incalculável – e prazerosa.

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