Quando estava na escola, os professores geralmente avaliavam as capacidades de seus alunos por um filtro bastante óbvio: a própria matéria. Assim, vamos supor que um aluno tirasse nota 10 em todas as atividades propostas pelo professor de português. O docente, provavelmente, achava que aquele pupilo era um estudante dedicado. Isso, no entanto, podia gerar interpretações confusas. Um jovem que iria bem em ciências poderia ir muito mal em matemática – e o contrário também. Mas outra conclusão óbvia que todos os mestres tiravam, na época, era a de que se um aluno fosse bem em sua matéria era porque teria talento para prestar vestibular em algum curso do gênero. Portanto, um bom aluno em matemática teria uma inclinação natural para cursar engenharia, física ou qualquer faculdade ligada ao que se chamava antes de “exatas”.
Pois bem. Estava eu cursando o último ano do ensino médio (naquela época, se chamava colegial ou segundo grau), quando fui chamado pela minha professora de matemática, Maria Helena Souza. Ela queria discutir o meu futuro profissional, já que eu era um ótimo aluno em sua matéria. “Você já se decidiu sobre o vestibular?”, perguntou ela. “Você deve estar pensando em engenharia, mas eu acho que você poderia considerar matemática”.
Tomei um susto. Era bom em álgebra e, em algumas ocasiões, inventava fórmulas diferentes das ensinadas em salas de aula. Tinha bastante facilidade. Lembro inclusive de uma prova sobre logaritmo, no segundo ano. Fui o único aluno da classe a tirar 10, enquanto a média dos meus colegas ficou em torno de 5. Mas minha verdadeira paixão era escrever e já tinha me decidido pelo jornalismo. Quando expliquei isso a ela, vi o desapontamento em seus olhos. “Você tinha de ser um teórico da matemática”, disse ela, incrédula.
Uma vez eu contei essa história ao meu filho, que me encarou com olhos marotos, duvidando do que eu contava. Mas, alguns meses depois, estava com ele almoçando em um restaurante e topei com a professora Maria Helena, que confirmou a minha versão, tintim por tintim.
Essa história me veio à cabeça quando eu li ontem que sete entre dez estudantes brasileiros não sabem o básico das operações de matemática, segundo estudo do Programa de Avaliação Internacional dos Estudantes (PISA, em inglês). Além disso, a pesquisa mostra que somente 1% dos alunos no Brasil atingiram o melhor nível de rendimento nesta matéria. Para se ter uma ideia, o líder do ranking, Singapura, teve 41% dos alunos classificados neste quesito.
Em matemática, em uma amostra de 80 países, o Brasil ocupa a 64ª posição, uma à frente da Argentina. Aliás, os países latino-americanos listados no estudo do PISA, de maneira geral, foram muito mal.
Ocorre que um país não tem futuro plausível se não investir de forma inteligente em educação. Convenhamos: o orçamento do Ministério da Educação será de R$ 162 bilhões em 2024. É bastante dinheiro. Mas os resultados brasileiros do PISA mostram que estamos gastando mal essa verba.
O resultado deste ano, dizem os especialistas, foi prejudicado pela pandemia de 2020. Mas, em tese, esse problema também teria afetado as demais nações, nivelando todos os alunos da pesquisa. Mas, de fato, houve uma piora (pequena, mas houve). Hoje, são 73 % dos alunos que não têm conhecimentos básicos em matemática. Na amostra de 2018, esse índice era de 68 %.
Em um mundo cada vez mais tecnológico, precisamos de mão de obra especializada. Só que, se tivermos um ensino ruim de matemática, a lógica nos diz que produziremos poucos engenheiros diante da necessidade do país. Hoje, temos inciativas como a Inteli, de Roberto Saloutti e André Esteves, sócios do BTG Pactual. Este projeto destina-se a ampliar a oferta de mão-de-obra dos profissionais de engenharia de computação e de software, além de ciências de computação e de sistemas de informação.
Mas, do jeito que as coisas estão no ensino médio, precisaremos de outros projetos para ajudar os adolescentes a aprender matemática e se preparar para cursos universitários ligados ao mundo da tecnologia. Essa é uma questão crucial para o nosso futuro. E só vai ser resolvida quando o governo traçar metas concretas, como avançar pelo menos vinte posições na próxima pesquisa do PISA.
Sem objetivos palpáveis, não conseguiremos estabelecer um método de excelência para revolucionar nosso ensino. Precisamos urgentemente de engenheiros que ajudem a consolidar o Brasil no século 21. E, sem um ensino adequado de matemática, isso não será possível.
Respostas de 7
Estou cursando licenciatura em matemática, estou no 6 semestre. E esse ano assumi 10h aula, em sala de aula. Eles não sabem matemática básica, e não querem aprender nada. Temos profissionais interessados e alunos, atrasados, infantis e irresponsáveis. Claro que lecionei em uma escola pública. Infelizmente a dedicação nos estudos são melhores no ensino particular.
O problema também é lá nas séries iniciais onde dou aula, o ensino da matemática passou a ser muito raso, não há mais treino, muitooo conteúdo….nisso eles vão tendo nota apenas pra passar de ano sem a aprendizagem de conteúdos básicos. Em escolas públicas, privadas…do norte ao sul do país….as coisas precisam mudar lá primeiro. Não é só uma questão de responsabilidade do aluno.
Não sei da onde tirastes essa concepção de que as privadas são melhores.
Na verdade elas passam essa impressão pq entregam tudo prontinho, livros didáticos com respostas, geralmente respostas que eles querem ouvir. Desafio um aluno de escola privada a fazer uma prova da escola pública sem consulta.
Salas lotadas com mais de 35 alunos, salários defasados, escolas sem o mínimo de estrutura. Não tem como ter resultado diferente.
Sou professor municipal e, pretendo ser bem claro. A escola pública está acabando com os estudantes, pois facilita e obriga professores à conivência com uma política suja das secretárias de educação. Somos obrigados a “passar” os alunos que em sua grande maioria não querem estudar, tampouco se importam com seus resultados horrorosos.
Todo ano uma nova legislação para salvar os alunos e ter índice de aprovação, esse é o cenário educacional em BH. E acredito que em outras tantas cidades do Brasil.
Professores cansados e sem resiliência se acomodam e cedem aos argumentos nefastos que são apresentados por, direção, coordenação e demais autoridades educacionais. Alunos estão saindo do fundamental sem saber a tabuada, a divisão simples, frações nem se pode falar e por aí vai.
A política é “ele vai aprender futuramente” vamos aprovar assim mesmo.
Se querem mudar resultados em avaliações sérias como o PISA, comecem investigando as secretárias de educação, é fácil perceber uma aprovação fraudulenta, façam um teste sério.
Todas as provas realizadas atualmente, não testam absolutamente nada em questão de matemática.
Oi, sou um aspirante a licenciatura em matemática, e concordo com todos os argumentos acima, estudo em uma escola alugado, onde a infraestrutura não é boa, o ensino é bom, pois os professores são bastante dedicados ao que fazem, mas os alunos não, isso é resultado da pandemia e péssima coordenação de alguma escola ou até mesmo do próprio estado, então por mais difícil que seja, eu quero tentar, quero tentar ajudar esses alunos que estão encarecido do ensino básico principalmente em matemática, e não sei como vai ser, mas tenho uma ideia, que seria optar pelos métodos antigos, só renovados e aplicados nesse século…. É isso ????
Tenho formações acadêmicas nas áreas de Letras (árabe-português) e Matemática ambas pela UFRJ. No decorrer deste último curso eu já observava as carências que grande parcela da turma tinha na compreensão dos Cálculos, por exemplo. Uma grande parcela da turma não conseguia entender os conceitos básicos da Matemática, isso nos prova que a Educação brasileira precisa ser repensada, isso em vários aspectos, dentre eles melhores salários aos professores e boas condições de trabalho.