Por Eduardo Simões
SÃO PAULO (Reuters) – O apoio dos partidos do chamado blocão ao pré-candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, é importante por dar ao tucano instrumentos relevantes para a campanha eleitoral, mas embute riscos de imagem à candidatura do ex-governador paulista e está longe de colocá-lo em situação confortável para vencer a eleição de outubro.
E, mesmo que o tucano e seus aliados mais próximos consigam transformar a vantagem de infraestrutura advinda com o apoio do grupo de legendas em vitória eleitoral, Alckmin ainda corre o risco de, se for instalado no Palácio do Planalto, ver sua agenda legislativa refém de uma base formada por siglas conhecidas por sua voracidade por cargos, recursos e fatias do poder.
“Esses partidos trazem eleitores, votos, para o Alckmin? Eles não trazem votos. Não é uma coisa automática”, disse à Reuters o cientista político do Insper Carlos Melo.
“Ele está adquirindo instrumentos de campanha eleitoral: tempo de televisão e capilaridade. Isso vai se transformar em voto? Essa é a primeira pergunta que se tem que fazer”, acrescentou.
Após reunião com Alckmin em São Paulo na quinta-feira, as lideranças dos partidos do blocão –PP, DEM, PR, PRB e Solidariedade– decidiram fechar apoio a Alckmin na eleição presidencial, mas o acordo, que deve ser anunciado na próxima semana, só será formalizado após o que o presidente de uma dessas siglas chamou de fazer o “dever de casa”, ou seja, alinhar palanques regionais nos Estados.
Se emplacar a aliança com o blocão, Alckmin –que já tem o apoio formal do PTB e está praticamente fechado com PSD, PPS e PV– terá o maior tempo na propaganda eleitoral no rádio e na TV, mecanismo historicamente importante em eleições presidenciais no Brasil.
ATIVO E PASSIVO
Ao mesmo tempo, ele atrairá para sua campanha partidos que foram da base de apoio ao presidente Michel Temer, cujo governo é amplamente rejeitado pelo eleitorado, e que têm várias de suas lideranças envolvidas em escândalos de corrupção que vão desde a Lava Jato até o mensalão.
“O Alckmin ganhou um ativo e contraiu um passivo”, avaliou Melo. “Ao mesmo tempo que o centrão te dá tempo de televisão, ele te dá desgaste de imagem. A identificação com o governo Temer só seria maior se o MDB entrasse.”
De acordo com o presidente de um dos partidos do blocão que confirmou o acordo à Reuters sob condição de anonimato, o acerto inclui apoio tucano à reeleição do deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ) na presidência da Câmara dos Deputados.
Além disso, os partidos do blocão indicarão o empresário Josué Gomes da Silva, dono da Coteminas e filiado ao PR, como vice na chapa de Alckmin, e há relatos de que os partidos do blocão também cobrarão apoio para emplacar o presidente do Senado a partir de 2019.
De acordo com analistas ouvidos pela Reuters, esse cenário impõe a Alckmin o risco de, se eleito, governar sob forte tutela dos partidos do blocão.
“O que eventualmente vai ser importante é o quanto Alckmin vai ficar refém do centrão, ou seja, do baixo clero, na implementação da sua agenda futura”, disse à Reuters Rafael Cortez, analista político da Tendências Consultoria Integrada.
“O Alckmin vai precisar construir uma ascendência sobre esses partidos para que a agenda reformista tenha sucesso.”
RISCO ÀS REFORMAS
O tucano tem afirmado que, se eleito, levará ao Congresso já em janeiro do ano que vem propostas de reformas como a da Previdência, a tributária e a política. Segundo ele, a estratégia será usar o capital político vindo das urnas para obter aprovação do Congresso às medidas.
Entretanto, os partidos que agora aderem a Alckmin são os mesmos que, na base aliada de Temer, não aprovaram, por exemplo, a reforma da Previdência, uma das prioridades da agenda legislativa do emedebista. Além disso, há dúvidas sobre se parlamentares dessas legendas darão suporte a medidas que alterem significativamente o atual sistema político.
Cortez avalia o apoio do blocão a Alckmin como positivo para o tucano no curto prazo, mas afirma, por outro lado, que, embora o apoio dê ao tucano ferramentas e oportunidade para vencer a eleição, os riscos à candidatura dele ainda seguem elevados.
O analista aponta um risco do que chama de “sarneyzação” da campanha eleitoral deste ano e faz um paralelo com o pleito de 1989, quando o então presidente José Sarney (PMDB) também era amplamente rejeitado pelo eleitorado e candidatos vistos como próximos a ele –Ulysses Guimarães (PMDB) e Mario Covas (PSDB)– tiveram desempenho ruim.
“O que pode ocorrer é a mudança entre os personagens: o Sarney passa a ser o Temer, o Covas e o Ulysses passam a ser (o pré-candidato do MDB Henrique) Meirelles e Geraldo Alckmin. Esse risco ainda é bastante elevado”, avaliou.